terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Útero

Pagam-me pouco
Pra trabalhar oito horas por dia
Em cima desse salto agulha 7
E por baixo dessa maquiagem
Meus colegas de trabalho usam sapatos confortáveis
E ganham mais.
Meus calos doem por muito menos
Só por que eu tenho útero.

Meu ex-marido me traiu por quinze anos
Ninguém nunca falou nada
Afinal, ele é homem!
É normal que os homens traiam.
Eu o traí uma noite
Mas, eu sou puta!
Só por que eu tenho útero.

Ele me deixou por uma de vinte
E é idolatrado por todos
Me apaixonei por um de trinta
Mas, eu sou a "coroa assanhada"!
Só por que eu tenho útero.

O mau humor deles é stress
O meu é TPM
Se sentem calor, é o aquecimento global
Se eu sinto, é a menopausa que se aproxima.
Histeria
Histeria
Histeria
Coisa de quem tem útero!

Mês passado, mataram meu filho atropelado
Hoje, meu carro estancou no sinal
O motorista atrás
Pôs-se a me xingar
Pois, eu dirijo mal!
Só por que eu tenho útero.

Mulher é burra
Dirige mal
Só serve pra cozinha.
Homens são inteligentes,
competentes, eficientes
Só têm um grave problema de memória
Esquecem que saíram de um útero.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

O que não foi real

Quando você apareceu com ela
Tudo começou a fazer bagunça
Poderia ser eu
Poderíamos ter sido nós.
Pensei em lutar por você
Mas, não fazia mais sentido
Correr por algo que já não tinha sentido.
Ela tinha um sorriso tão bonito
E eu estava/era tão bêbada
Tão louca,
Um cigarro na mão esquerda e um copo cheio na direita,
Jogada a tudo aquilo que tinha nos feito estar aqui.
Você estava ligado a tudo aquilo que eu não pude dar
Palavras bonitas,
Carinho ,
Talvez, algum recital de poesia de um autor novo.
Eu não tive a chance de dizer
Não pude dizer que por semanas
Desejei sua voz e seu corpo todos os dias
E em meio a todas as não-demonstrações de carinho
Eu queria dizer: “Venha!
Venha logo!
Antes que eu beba mais uma garrafa de vodka e mude de idéia,
Venha!
Venha agora!”
Você não veio.
É provável que não venha nunca mais.
Pedi pra take it easy,
Não era pra ter ido!
Só pedi: “take it easy!”
E não: “get away!”
Mas você got away de qualquer jeito.
De qualquer forma, eu sei
Já sobrevivi a temporais mais desgastantes
E mais impiedosos
Sobrevivi até um “já não te amo mais”
E um “eu nunca te amei”.
Quero que viva esse sorriso
E o tenha.
Nunca o terei.
E finalmente: “get away, boy!”
Mas, desta vez, “get away” de mim!

sábado, 28 de novembro de 2009

...

Ontem desejei morrer, inclusive, arquitetei a forma, queria algo inovador, algo nunca tentado antes. Mas, acho que todos já tentaram morrer de todas as formas e pra morrer de um meio não excêntrico, prefiro viver, ou melhor, existir. São exatamente 11:28 da manhã de uma segunda-feira, meus olhos estão inchados, na verdade, quando acordei e olhei no espelho pensei que fosse outra, aquela imagem não me era familiar, estava deformada, o choro a deformou... os olhos eram menores do que já são e a boca maior do que já é, a franja de um cabelo-castanho-avermelhado(traços do vermelho que não quer me deixar)esvoaçada, eu toda descabelada, encarando aquele monstro no espelho. Sentei na cama, ainda de frente ao espelho e pensei que talvez, eu devesse raspar o cabelo, depois, resolvi que não queria mais pensar, pois todo “penso” é cansativo e já não tinha forças, deitei. Lembrei de ontem, acho que nunca havia chorado com tanto gosto, tive liberdade disso. Minha mãe me perguntou o porquê do meu choro, eu disse que estava com dor, perguntou de que, disse: “cólica, mãe”. Então, me deixou chorar de cólica. Aliás, as cólicas sempre justificaram meus problemas, as pessoas devem pensar que eu devo ter um problema ginecológico, nunca gostei muito de gente e sempre fugia dos lugares e quando me perguntavam o que tinha, sempre respondia: “cólica”. Era como matava aula no colégio, como fugia no meio das festinhas na casa dos amigos, como explicava minha cara sempre emburrada: “cólica”. Então, ela (minha mãe) saiu pra comprar um remédio pra minha dor, isso foi maravilhoso, eu só no meu quarto podia me contorcer à vontade, me entregar ao choro e ainda balbuciar o nome daquele idiota, falar em voz alta, gritar, xingá-lo e sonhar que ele estivesse pensando em mim. Tive uma vontade quase incontrolável de telefonar e escutar ele dizer: “alô, alô, alô” (silêncio, só o som da respiração dele). Não liguei, meus braços não se mexiam, não tinha mais voz, não era mais nada, nem queria mais nada, não sentia nada, só queria morrer, me faltava coragem e com o medo que sempre me perseguia, resolvi fazer nada. Imaginei o amanhã e não consegui vê-lo, de fato, morri ali, morri naquele momento, morri, morri, morri. Passava um filme na minha cabeça, todos os momentos, todas palavras, as melodias que eram ele, dele, por ele e pra ele. Tudo, tudo o que eu planejei, o jantar, ou melhor, o almoço(lembra?), nós de mãos dadas, o “eu te amo” que eu nunca ouvi, era um filme de ficção passando na minha memória... uma lembrança não existente, só em mim, de onde nunca passou, nem vai passar.

Você já amou alguém? Tanto, mas, tanto que quando você via aquele ser, o coração disparava, o ar faltava, a voz desaparecia e você não sabia se corria dele, ou pra ele? Eu já. E por me faltar a voz, nunca consegui trazê-lo pra mim, o perdi, inúmeras vezes. Ele escorregou da minha mão, fugiu de mim. Eu me tornei apenas uma tarde agradável, uma noite agradável, uma conversa agradável na vida dele, creio que nem ao menos, agradável, ultimamente. A última frase dele me martela na cabeça: “cada macaco no seu galho”. Ele podia ter dito algo melhor, ou menos clichê, uma coisa menos pop, odeio tudo pop, odeio gente, odeio música que toca na rádio, odeio programas de TV, ele podia ter me dilacerado de forma mais romântica pra ser mais bonito de se contar, pra ser um fim bonito... não, ele só disse:

- cada macaco no seu galho.

- cada macaco no seu galho... – repeti.

- exato.

-exato... – repeti.

- é.

- queria te odiar, mas, não tenho força de vontade.

- okay, bye.

Odeio quem fala comigo em inglês, acho frio, inglês é uma língua fria, sem sentimentos. Doía quando, nem lembro quantas vezes, eu dizia que gostava dele e ele respondia: “thanks”. Eu queria contar algo e ele dizia: “tell me”. Odiava ainda mais por ser expressões manjadas e passar a impressão que ele queria se livrar de mim e acabar a conversa, odiava tudo, mas, não conseguia odiá-lo... até tentava, mas, desistia e o amava cada vez mais, além de mim.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Carta ao meu "Jonathan"

De tudo o que eu já senti, a melhor e a pior coisa é esse amor inexplicável por você. Ao mesmo tempo que me desespera, é você que me faz acordar todos os dias... é esse amor e a possibilidade de o ver que me faz apressar o passo e não perder a hora em que, provavelmente, você cruzará aquela esquina, me abraçar, beijar, falar qualquer coisa e olhar o relógio insinuando atraso, você só anda atrasado, parece o Coelho Branco de Alice no País das Maravilhas. Lembrei de Pink Floyd, lembrei de The Dark Side of the Moon, lembrei de Breathe: "Run, rabbit run"... você. Eu tenho uma necessidade tão grande de o ver, tenho pressa de você! Eu quero o ter, quer ser você. Você me dói toda e as poucas muitas lembranças que tenho ao seu lado são as melhores e que me dão força pra respirar e quando me abraça com esse seu abraço apressado, poderia demorar mais, acredito que o mundo pára de girar, o tempo pára, eu sinto! Tudo pára! Você não se atrasaria nunca mais se ficasse comigo... nem precisaríamos de relógios, nunca mais! E se o tempo não passa, não envelheceríamos e seríamos eternos, quero seus abraços eternos mais que qualquer coisa, mais que o ar... quero a eternidade e a certeza de que sou bem melhor, mais humana e o meu amor é inabalável, por mais que tente- e se não tenta é bom saber que parece - desfazê-lo, é tudo em vão. Queria que recebesse esta carta, queria que a sentisse. Eu o sinto tanto, vivo, quente, dentro de mim. Beijos e abraços eternos, com amor, *******.

sábado, 24 de outubro de 2009


Se a angústia e o tédio na sua forma profunda como tonalidades afetivas fundamentais trazem a possibilidade da cura fundamental, o afetado de angústia de ser nada se não se determinar a cuidar continuamente da possibilidade de poder-ser em sua singularidade própria, intui a necessidade de decidir. Decidir pela fuga de si e cair na impessoalidade da distração cotidiana que o confunde com a massa coletiva modelada pelas referências sócio-culturais de poder, ou decidir pela autodeterminação de seu caminho de poder-ser.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

O que é real?

Nunca o disse
Mas, meu gostar por você é tão real
Como é real a minha apatia
E descrença em amores.
No entanto, meu gostar por você é tão real
Como também é real
o meu gostar por outros
que nas minhas andanças
eu acabo esbarrando
E vivendo paixões de algumas horas.
Entretanto, meu gostar por você é tão real
Como é real a falta que sinto
nos meus surtos apáticos
e nas fugas de você.
Meu gostar por você é tão real
E não o quero pra mim.
Quero comigo.
Não o quero meu.
Eu estragaria tudo,
estragaria você.
Meu gostar por você é tão real...
E antes que a inconstância e volúpia tome conta de mim
e meu gostar por você se desgaste,
quero dizer:
Take it easy, boy...
Take it easy.

domingo, 27 de setembro de 2009

Aqui, aí, acolá

Vou colocar você no papel
pra que saia de mim
Embora não seja no papel que o quero.
Quero bem aqui.
Mas, meu “aqui”
Não é seu “aí”
E o meu “aí” não há
Pois, não tenho lugar no seu “aqui”.
Talvez, acolá, quiçá.
Já no meu aqui, o lugar é seu.
Todo seu
Esperando aqui
quentinho e quietinho.
Braços abertos
Peito aberto
Mãos frias e vazias
Do jeito que as deixou
E que já sentiu quentes e cheias
De desejo, um dia.
Às vezes,
Parece até que há um vestígio daquele seu perfume.
Sabe aquele?
Com toque amadeirado
Aquele que eu sentia na sua nuca
E depois, o gosto amargo na minha boca.
Reconheceria esse perfume
em meio a milhões de cheiros
e o gosto amargo
em meio a milhões de sabores amargos
doces, salgados, azedos.
Eu tentei achar o cheiro
Senti no ar
Aquele mesmo cheiro.
Mas, na pele, ele muda.
O gosto, na pele, também muda.
Descobri que não era do perfume.
O cheiro é seu, o gosto é seu.
Não posso achar o cheiro e gosto de alguém em outra pessoa
E me dói saber
Talvez, eu nunca mais sinta o cheiro e gosto dessa pele
Pior!
Você quer que outra os sinta.
Quer esquentar a mão de outra.
Na verdade,
Quer “uma” o sentindo,
Eu que sou a “outra”.

Vitória de Santo Antão, 27 de setembro de 2009.

sábado, 26 de setembro de 2009

Sambando

Decidi.
Quero samba!
Cansei de boleros,
valsas,
tangos.
Quero ser livre pra dançar só!
Vezenquando,
quem sabe,
encontre um desconhecido na gafieira
e sambe a dois.
Uma noite.
Umas horas.
Uma música.
Não esperarei um par
não quero par
não preciso mais.
Hoje, eu sambo.
Já disse! Quero samba!
Quero Noel!
Quero Ive Brussel!
Quero sambar sem amor
pra sambar samba e amor
E a menina sambar em paz.
Chega de dois-pra-lá-dois-pra-cá-emocional
Vou fazer samba da minha vida.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Quase

Quase ganhei na loteria
Quase ganhei a guerra
Quase consegui o emprego
Quase chorei
Quase ri
Fui o quase melhor
Quase cheguei lá
Quase enlouqueci
Quase esqueci
Quase fui feliz
Você quase me amou
Desta vez, chorei
Não foi quase
Quase morri.
Quase.
Quase.
Quase.
Quase é frustrante
Não quero quase
Quero tudo
Sou inteiro e intenso
Quero o mundo
E quase tudo
É quase nada.

sábado, 15 de agosto de 2009

Pra ler escutando: No Surprises - Radiohead



O chão do banheiro

Não há lugar mais digno

Pra derramar essas lágrimas

Essas lágrimas sujas

Não por serem lágrimas

Mas, por serem derramadas por você

Você que não vale

Não vale as promiscuidades escritas

na parede desse banheiro sujo.

Imundo.

Fedido.

Me sinto podre aqui.

Ah, essas lágrimas...

Antes fossem sangue, meu sangue

Minha vida desvaindo, eu indo de vez.

Meu amor escorre pelo rosto

e cai,

caímos, eu e lágrimas

no chão podre do banheiro.

Já sou podre também

Você me fez podre

Por que você o é.

Não.

Você não merece minhas lágrimas

Eu não mereço esse cheiro fétido.

Levanto, enxugo as lágrimas

Vou, vou de vez.

sábado, 8 de agosto de 2009

Sobre o pierrot-retrocesso...


Sabe o pierrot-retrocesso? O de "Faz parte do meu show", do Cazuza? Já parou pra pensar o que/quem seria o pierrot-retrocesso? Bem, a primeira coisa que me vem a cabeça é o personagem da Commedia dell'Arte, o pierrot apaixonado pela Colombina chorando de amores, aquela imagem de uma fantasia de carnaval com uma lágrima no rosto, trocado pelo Arlequim.
Mas, e o pierrot-retrocesso? O que Cazuza quis dizer, hã? Levando em consideração as caraterísticas do personagem, que é tido como inocente, fácil de enganar, louco, sonhador e mesmo sendo passado pra trás, ele continua a confiar nas pessoas. E a leitura de outras letras de Cazuza, como em "Não Amo Ninguém", quando ele diz: "Se todo alguém que ama/ Ama pra ser correspondido/ Se todo alguém que eu amo/ É como amar a lua inacessível/ É que eu não amo ninguém/ Não amo ninguém/ Eu não amo ninguém, parece incrível/ Não amo ninguém/ E é só amor que eu respiro." Eu fico pensando nas semelhanças do eu-Cazuza e do eu-Pierrot, ambos não eram correspondidos. Esta aí, o pierrot-retrocesso! Apesar de nunca se dar bem no amor, sempre sofrer, chorar, sentir essa dor nada miúda nesse "vão entre as costelas", como diria Adélia Prado, ele esquece. Esquece tudo que passou, volta ao início(retrocede) e ama de novo e de novo e de novo. Sabe o que é mais ridículo? No mundo, em pleno século XXI, em que amar é tão brega, ainda existem pierrot(s)-retrocesso e tão "Exagerados" quão Cazuza. Droga! =T

sexta-feira, 31 de julho de 2009

"não quero faca, nem queijo. Quero a fome"


Nos últimos dias, tenho tido um maior contato com o trabalho de Adélia Prado, e aqui, já depois de algumas doses dessa bebida, acho quase impossível não comentar sobre ela. "Bagagem", seu primeiro trabalho, foi lido e elogiado por Drummond que a indicou a Imago e referiu-se a ela como: "um fenômeno poético".

Eram textos impregnados de religiosidade cristã em todas as linhas. Mas a fé que transbordava dos poemas em nada era semelhante à crença torturada e complexa de outro católico e mineiro, o modernista Murilo Mendes. A poesia de Adélia transbordava de uma comovente felicidade simples, surgida do fazer cotidiano.

O cristianismo em Adélia não é um experimento metafísico, mas uma vivência cotidiana, doméstica. Uma poesia de fé no chão. Ela pratica sua crença religiosa à mesa, mas também na cama. Logo em seu primeiro livro, Pedro Paulo, ex-monge beneditino, portanto intelectual por excelência na abordagem da fé cristã, encontrou uma força vital brotada do sexo, semelhante ao êxtase de grandes místicos, como São João da Cruz, que, aliás, como Honoré de Balzac e Chico Buarque de Holanda(L), tinha uma enorme sensibilidade para entender a mulher, como demonstra em seu “Cântico Espiritual”: “Ali me deu o seio / ensinando-me a ciência saborosa / e me dei sem receio / na entrega generosa / e ali mesmo prometi ser sua esposa.”

Essa (con)fusão entre o gozo carnal e o êxtase espiritual se fazia presente no livro da estreante, uma bela mulher na flor dos 40 e em plena vivência do sacramento matrimonial com José de Freitas. Essa característica ainda permeia sua obra, como demonstra em “Neurolingüística”: “Quando ele me disse / ô linda, / pareces uma rainha, / fui a cúmice do ápice, / mas segurei meu desmaio.”

Sua poesia é enganosamente prosaica. O leitor superficial não sentirá falta de sua divisão em versos, sempre muito descritivos e de um ritmo imperceptível e sutil. Da mesma forma, sua prosa é ilusoriamente poética: ela não descreve, no sentido clássico de repetir o fluxo do tempo como se segue a correnteza de um rio, mas reproduz flashes de instantes. Estes compõem uma espécie de colcha de retalhos de uma forma tão heterodoxa que, também no romance, não é fácil pesquisar o DNA literário da Autora.

O crítico apressado encontrará pegadas do estilo da Lispector, mas, de fato ela admira, mas não a imita, ao contrário do que, mentirosa e traiçoeiramente, confessa, numa pequena frase perdida no meio do texto. Até não será exagerado dizer que a autora de Manuscritos de Felipa, de certa forma, seria uma espécie de anti-Clarice. Talvez não seja muito arriscado dizer que Clarice escrevia de dentro para fora. Ela mesma disse que escrevia como se costurasse – só que costura para dentro, e não para fora.

Adélia, ao contrário, escreve como se preparasse permanentemente seu interior para receber a bênção da realidade, seja ela o produto sujo e fétido das entranhas ou o saldo magnífico da observação do belo.

Na fé no chão da literatura de Adélia, o primado do simbólico do cristianismo é substituído pelo primado do real. Ela é submissa à manifestação divina no real e imediato. O que mais deslumbra no que ela escreve é o escândalo da realidade exposto no sacramento.

Pra quem se interessou e quer começar a ler Adélia, eu sugiro a sua primeira obra "Bagagem". Também há o áudio da obra: "O sempre amor", que deixo o link aqui pra quem quiser baixar.

http://www.4shared.com/file/68379773/3ec1f559/Adlia_Prado_-_O_sempre_amor.html?s=1

Eu particularmente, adoro escutá-lo... ficadica :*

segunda-feira, 13 de julho de 2009

"Hollywood fica ali bem perto..."

Na vida, acidentes acontecem todos os dias. Alguns a gente nem percebe e quando vê... tão lá, mudando tudo que tínhamos programado por um belo tempo. Eu me acidentei, ainda não há nenhum parecer sobre as consequências, talvez, por ser um acidente gradual, aos poucos me toma e vai desviando meu percursso. Nooossa! E é um desvio maravilhoso, como se eu tivesse num filme preto-e-branco e tudo tomasse cor e um cheiro mais forte. Tá tudo tão colorido, tudo tão "vert et rouge",tudo tão "Alomodóvar"! Tem cheiro de perfume e um gosto que não tem como descrever, um gosto que eu nunca tinha sentido, diferente. Agora, o filme tem até temperatura, lá pelos 37 graus e tem sido tão hollywoodiano. Nada dessas coisas alternativas, cinema francês, europeu. Eu assisti Frida hoje pela milésima vez e tem uma cena que eu adoro, quando ela fala: "sofri dois acidentes na vida: um foi no bonde e o outro, você (pro Diego Rivera)". Sofri (Isabela) dois acidentes: o bonde - aquele que me atropelou - é passado e você, foi um acidente bom, independente de quando vá passar a ser passado. Cinema francês a parte, quero meu momento hollywood. (y)

terça-feira, 7 de julho de 2009

Um grito reprimido

Eu queria gritar aos quatro cantos o que passa em mim nos últimos dias. Não posso. Eu tenho uma natureza descuidada e apressada (para algumas coisas), que não acompanha o ritmo NORMAL dos outros. Descuido e pressa somados a um complexo de inferioridade que me faz sempre trocar os pés pelas mãos, os sins pelos nãos. E o eu pelo o outro. Enquanto eu aprendo a lidar com isso, as pessoas vão perdendo a paciência e indo embora. É que foi tanto sentimento acumulado nos últimos meses que hoje tudo quer sair, quer explodir dentro de mim. Nos últimos dias, tenho vivido uma mescla de felicidade e medo, felicidade por que é diferente e melhor que tudo acontecido antes, medo por que minha cabeça é fantasiosa e pode ser tudo produção da minha mente, entende? Se não, digo: "é terrível e atrapalha tudo". O medo sempre acabou com a minha alegria. Eu não me sinto à vontade pra tá expondo o que eu sinto com tudo o que eu sei sobre o outro. É bom que haja sinceridade, no entanto, tantas coisas me fazem mal e me reprimem, me assustam e atrapalham. Mas, ele não entende isso, nem vou tentar colocar isso na cabeça dele, só complicaria mais. Também não vou pedi-lo nada, quero que ele se sinta livre, só preciso controlar meus surtos de medo. Ai ai, queria tanto que me entendesse. =/

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Dois ou três almoços, uns silêncios.

Faz tempo que eu não escrevo nada, as palavras tem sido uma espécie de "Deus" e eu um crente meio interesseiro que só o busca quando tá "na merda". Eu sou tão piegas e previsível e isso me irrita extremamente, muito extremamente. Dia desses, eu tava sentada , "na merda" e comecei a escrever, não terminei, depois houve algo que me fez tão feliz, ou melhor, tão alegre (acho até clichê falar que felicidade é constante e alegria é efêmera), que acabei não terminando, guardei o papel e a caneta e hoje nesse novo "mergulho na merda", os encontrei ao meu lado. Eu falava, nas poucas palavras que tinha escrito, da relação da minha mudança de um eu-Cazuza pra um Eu-Caio-Fernando-Abreu. Cazuza gostava de viver platonicamente, vivia amando coisas/pessoas inacessíveis, ele não vivia paixões avassaladoras, eram desamores solitários, ele amava e desamava só e adorava mesmo era sofrer. Caio Fernando Abreu, não. Caio vivia, se jogava, ia atrás, não era aquela coisa inacessível, era acessível, bem acessível, mas, as decepções era bem maiores, pois elas existiam. Cazuza sofria pelo amor/paixão que não conseguiu e CFA pelo que perdeu.

"Se todo alguém que ama
Ama pra ser correspondido
Se todo alguém que eu amo
É como amar a lua inacessível
É que eu não amo ninguém
Não amo ninguém
Eu não amo ninguém, parece incrível
Não amo ninguém
E é só amor que eu respiro ". Cazuza

"De mais a mais, eu não queria. Seria preciso forjar climas, insinuar convites, servir vinhos, acender velas, fazer caras. Para talvez ouvir não. A não ser que soprasse tanto vento que velejasse por si. Não velejou. Além disso, sem perceber, eu estava dentro da aprendizagem solitária do não-pedir..." Caio Fernando Abreu.

Entende? É disso que eu tô falando. O Caio ele também ama, talvez, até mais intensamente que Cazuza, mas, ele já sofreu taaaanto. Cazuza fazia o gênero menino, adolescente, que gritava aos quatro cantos a paixão doída. Caio vivia, não gritava e quando passava, ele parecia "sou-forte-seguro-essa-sou-mais-eu", quando ele "sofria litros", acabei de ler algo que me fez pensar aqui, tipo, tudo é tão efêmero, super, altamente... E eu sou tão Caio, hoje.

"Que imensa miséria o grande amor - depois do não, depois do fim - reduzir-se a duas ou três frases frias ou sarcásticas. Num bar qualquer, numa esquina da vida.
Ai que dor: que dor sentida e portuguesa de Fernando Pessoa - muito mais sábio -, que nunca caiu nessas ciladas. Pois como já dizia Drummond, "o amor car(o,a,) colega esse não consola nunca de núncaras". E apesar de tudo eu penso sim, eu digo sim, eu quero Sins".

[Caio Fernando Abreu - Pequenas Epifanias: Extremos da paixão]

segunda-feira, 15 de junho de 2009

poucas palavras

Sobre mim, não sei, ando mais confusa que eu mesma. Não sei se estou onde quero, fazendo o que quero... ainda que não queira, o não-quero está bem agradável para mim e descobri um "quero" em meio a tudo isso. Não nasci pra fazer resenhas e resumos, nem pra falar de política, tudo é muito objetivo pra mim, gosto de subjetivismos, pieguices, sou brega, faço tipo mulher-romântica-carente que é alvo fácil pra paixões e coisas do tipo.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

...

Deve ser tão confortável/feliz ter pra quem ligar, mandar mensagem, quem você possa dizer eu te amo, te quero, essas coisas, a hora que você quiser. Às vezes, precisa-se simplesmente dizer e não se tem pra quem, ou tem, mas você não pode. Na verdade, não tem. Você não tem. No entanto, a pessoa existe. Sabe o que faz pra aliviar? Fala pro travesseiro, abraça ele e finja que é a pessoa "querida", escreve um sms e finja que mandou... acredite que ela está viajando e quando chegar vocês irão matar a saudade. Quando você convive tanto tempo com a possessividade da solidão, aprende a lidar com essas situações, as rejeições, o desamor, o amar-sozinho. Só cuidado pra ela não perceber a sua pseudofelicidade, ciumenta demais, ela vai destruir suas fantasias. Ah, eu conheço a danada! Tinhosa que só ela! Só não sente ciúmes de pessoas que sabe que eu não vou trocá-la, afinal, "antes só do que mal acompanhada". Tenho tanto amor dentro de mim e não cabe mais na solidão. Cansei de ser só e falar com o travesseiro. Alguém, por favor, faz a solidão esquecer de mim? Prometo ser eternamente grata.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Coração-estúpido!

"Ontem, experimentei um sentimento novo, por alguém novo. Foi estranho sentir algo por uma pessoa que não fosse aquele outro (que não vem ao caso agora), é estranho aceitar que agora ele comece a não fazer mais parte de mim. Não queria perdê-lo, já havia perdido de fato, mas ainda estava em mim e o que está em mim, é meu. Aquele pedaço dele era meu e estava indo embora e doía pensar que a vida pudesse seguir assim: ele sem mim, eu sem ele. Provei uma dose de ciúmes, dessas bem fortes, bem amarga. Queria manter uma relação agradável com alguém, uma espécie de amizade-colorida, um amigo com quem eu pudesse satisfazer meus desejos e os dele. Perfeito! Arranjei uma companhia agradável, uma conversa agradável, que vezenquando acabava em surtos de luxúria e noites muito mais que agradáveis. Eu queria aproveitar tudo ao máximo pra tentar esquecer a decepção que tinha sofrido. Tudo foi águ'abaixo. Ontem mesmo, percebi que algo mais complicado ocorria dentro de mim, estraguei tudo. Droga de coração-carente! Ninguém pode dar um pouco de atenção e ele já se apaixona, agora tá assim: os-quatro-pneus-arriados. Eu já havia notado alguma coisa meio agitada. Até então, achava normal, afinal era uma pessoa que me trazia momentos bons e meu coração-idiota só tava feliz em vê-lo. Às vezes reparava a alegria dele, todo acelerado, e tentava disfarçar, calava, me mostrava indiferente, enquanto tentava convencer a mim mesma que tudo aquilo era "só bobagem". Bobagem, que nada! Tive vontade de bater na cadela que tava de conversinha e troca de olhares com o meu (é,meu!) amigo, ontem. Me peguei arquitetando planos de vingança, notei o ciúme. Sinal vermelho! Ciúme é perigoso. Só se sente ciúme por quem se gosta. Cheguei em casa e tive uma conversa bem séria com o meu coração, ele precisa botar os pés no chão e deixar de ser tão sentimental, tem que amadurecer, parar de viver essa adolescência que parece não passar. Sentamos na cama, ele acalmou-se, então, falei: "seu coração-besta-e-burro, quando vai aprender que você não nasceu pressas coisas de amor? Já tá pronto pra sofrer de novo? Se ao menos sofresse só, mas você me dói toda, da próxima vez, eu não te perdoo, te enfio uma faca, seu mané! Olha como você me deixa! falando sozinha de novo, coração-estúpido!"". 
(Luíza - 09/05/2009)

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Um sentir-especial

Perdoe-me melodramaticidades literárias. Às vezes também não suporto essa mania de querer escrever meus sentimentos, mas é mais forte do que eu. Perdoe-me uma aparência apática, é só uma forma de defesa pra você não perceber que por trás desse olhar frívolo e indiferente há tanto sentimento e fragilidade. Você, meu caro, sabe muito bem dos poços onde estive e que essa máscara "assentimental" não combina nada comigo. Eu falei de um sentir-especial pra alguém, uma vez. Ele me fez chorar tanto, tantas vezes, que o tanto hoje é medo, tenho tanto medo. Tenho medo de confessar a você o meu sentir-especial e sentir aquela dor terrível, nada especial, na garganta-peito em que é necessário respirar bem fundo pra melhorar. Algumas vezes a dor é tão forte, dá vontade de arrancá-la com as mãos. Ah, meu... bem, você não tem nada de meu, muito provavelmente, nunca terá. Então... meu amigo, queria tanto que soubesse: é você. Não direi, você é tão especial pra mim, prefiro privar-me de decepções, quero que continue assim, especial. Mas, se por acaso, você chegar a ler isto, se descobrir aqui como "o você" e me perguntar, responderei sim: "é pra você que escrevo, é por você esse meu sentir-especial".

quarta-feira, 13 de maio de 2009

O corte abriu

      "É incrível como o destino gosta de brincar com os sentimentos da gente. Eu deveria estar aqui sentada, assistindo mais uma aula tediosa de psicologia desde as 18:30, no entanto me atrasei. É, me atrasei. Fui à biblioteca entregar os livros que peguei semana passada e que a data limite era amanhã. Ainda me pergunto por que motivo eu resolvi entregá-los antes da data, ou por que justo hoje? Eu não usava-os desde a última sexta, pensei em entregar ontem, não fui. Fui hoje. Hoje! Se tivesse seguido minha rotina diária não o teria encontrado. Eu o vi. Depois de quase dois meses, vi os olhos sobre os quais já escrevi tanto. Preferia não ter visto. Passou por mim, não falou, acenou a cabeça. Sabe quando não temos intimidade com alguém? Encontramos esse alguém na rua e apenas acenamos com a cabeça, só pra não parecer rude, ou coisa do tipo. Ele acenou com a cabeça pra mim, como só me "conhecesse de vista". Ele me conhece/conhecia de tato, de cheiro. Doeu. Pensei que não doeria quando imaginava essa situação. Também imaginei que meus batimentos não acelerariam tanto como antes. Foi como uma ferida externamente sarada, que a gente pensa que já pode fazer tudo, esquece que faz pouco tempo e de repente, num movimento exagerado, o corte abre. Abriu. O corte abriu. Minha carne está exposta, outra vez. "  
(Luiza- 06/05/2009)