domingo, 19 de setembro de 2010

As cartas

Hoje, remexi no passado. Acordei e fui ver do que eu poderia me libertar, achei essa caixa de sapatos velha cheia de cartas destinadas a mesma pessoa. Havia poemas, declarações, desabafos... cartas com datas diferentes, algumas com a diferença de meses, outras de anos. Muitas cartas. Em uma delas eu comentava que naquele dia, eu queria ter ido... eu, sinceramente, queria muito ter ido te ver quando tu me chamaste, pouco tempo antes de tu ires embora, te explicava os motivos de eu ter enlouquecido, tinha medo de nunca mais te ver, eu tenho medo de nunca mais te ver, morro de medo de nunca mais te ver. Também confessava que te seguia, de longe... por que eu queria te ver, mesmo que fosse só o rastro, a resta... eu te segui muitas vezes. Em todas elas, eu dizia como gostava do teu cheiro, mesmo nem o conhecendo bem, não lembro se disse que te amava, não era preciso, isso sempre foi muito escancarado e eu não tinha esse direito. Amar e não poder dizer que ama, quer coisa pior? Coisa mais triste? Eu não podia, nem posso. Eu queria te dizer o meu "eu te amo" entalado, ia ser um "eu te amo" tão poderoso que era capaz de tu me amares também. Eu não tenho direito de sentir isso e tu tens o de não saber, sabendo, fingindo que não sabe. Vou dar um fim a essas cartas, não há por que guardar. Eu vou queimar e jogar as cinzas no ar das cartas que eu nunca te entreguei. Quem sabe qualquer dia desses algumas partículas delas cheguem perto de ti e tu respires e as sinta.