sábado, 12 de abril de 2014

00:00

Moço
Você vê o que fizeram de mim?
Sentada
Na merda
Sem ninguém, sem amigos
Sem dor
Ou algo que faça alguém se sentir vivo.

Eu nem sempre fui assim
Foi um longo caminho até aqui
Dancei muito tango na merda
Espalhando essa bosta por aí.

Cara,
Essa tal paz aí,
Você não vai achar.
Que mania absurda de pensar
que a sua paz tá em outra pessoa!
A paz é solitária
E você não vai achar
em nada, ou ninguém.
É tudo inside!
Não há ninguém
Não há Deus
Não há cartão de crédito,
Não há álcool,
Não tem cigarro.
Desculpa acabar com suas ilusões...
Mas nem toda a maconha do mundo
vai dar jeito.
E se você continuar procurando outside
É melhor dar um tiro no peito.
Dói menos.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

7:30

O vento toca as árvores coloridas pela primavera.


Em algum lugar você vê árvores
e eu não sei.
Talvez pense em mim
Talvez nas árvores
Elas dançam com o vento
são verdes e vivas
e o céu é de um azul limpo.
É LINDO!

A aparente primavera
apagando meu inverno crônico
e cinza.

Eu preciso ir embora.
Depois dela
Você reina no verão
Pode ser que eu volte
quando as folhas caírem secas
no outono
E comece tudo outra vez.

Pode ser que chova
pode ser que não.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Arte-desabafo

A vida não imita a arte.
Arte é DE-SA-BA-FO!

Expressão!
Nos
Apropriamos
do mundo
e o mostramos
pro-
ces-
sa-
do pelas nossas retinas.
Representação!

Meu desabafo
Se alguém vier
Um dia, talvez,
Chamar arte
É resultado da minha interpretação do mundo.
É um universo por mim em letras, vírgulas
E pontos.

Minha arte imita apenas, só e somente
Minha vida
Por isso é tão desregrada
agonizante
mal amada
feia
seca
tão vazia.

Não, não! A vida não imita a arte
Se imitasse
Eu não seria eu.
Eu seria um girassol
Triste-louco-solitário-louco-cansado-louco-amarelo-louco-doido-louco-perdido-louco-sem-sol-louco-sem-você-morto.
Um girassol num quadro de Van Gogh.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Buarqueando

Ácida, fria e assentimental, paradoxalmente com uma alma do eu-lírico feminino buarqueano, sambando e amando Nicanores, amarrada em seus nós de marinheiro, levando sorrisos, retratos, trapos, pratos, de alguns; cantando estribilhos, embalando os filhos de outros; saindo de bar em bar, falando besteiras e me enganando... Esquecendo tudo com ainda outros que chegam arrancando páginas dentro de mim; ensinando todos a não andar com os pés no chão, pois para sempre é sempre por um triz. Acidez, frieza, tudo máscara, maquilagem... na verdade, nos meus olhos fundos, guardo tanta dor, a dor de todo esse mundo e um medo, medo de sofrer e amar um outro Nicanor e viver perguntando por aí por onde ele anda. Às vezes, ele passa ali pela janela, tudo passa pela janela, o tempo, e só eu não vejo. Vivo jurando que tenho coração. Não me apedrejem, ou cuspam, sou tão coitada e tão singela, meu amor é tão grande que não sabe onde parar  e vezenquando acaba cedendo a tentações de bocas cruas. Ainda assim, malvada me penteio e não escuto quem me apela. Malvadeza é sempre medo, medo, medo. E assustada, eu sempre digo não, finjo não querer, sujo teu nome, humilho, me vingo a qualquer preço, peço que tire as mãos de mim, na verdade as desejo com toda paixão e te adoro pelo avesso, quero te chamar, mulato mole, pra dançar dans mes bras, por que tu as le parfum de la cachaça e de suor e eu adoro cheiro de homem brasileiro, assim, tropical, a quem eu quero brincar no corpo feito bailarina e nos músculos exaustos do teu braço repousar frouxa, murcha, farta, morta de cansaço. Enfim, me rendo, pois seus olhos morenos me metem mais medo que um raio de sol. Pois bem, depois de tanta buarquice, meu amigo, se ajeite comigo e dê graças a Deus.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Medo

Não sei. Tenho a voz lenta e baixa, gosto da história do mundo, Sartre, hermetismo, chá de erva-doce e principalmente, as estrelas. Eu tento ler as estrelas, cara, e você tem medo de mim. Medo é bom? Eu morro de medo de muitas coisas, envelhecer, amar, da morte... Então eu piro, fugindo do medo, enlouqueço, depois tenho medo de mim e da loucura. É o medo que move o mundo, darling. É o medo de perder o emprego que faz o empregado obedecer ao patrão, é o medo de ir pro inferno que faz o fiel acreditar em tudo que alguém diz ser palavras de Deus e engolir esses conceitos absurdos, você teme a marginalidade e suporta essa polícia corrupta, tem medo do futuro e estuda pra ser o melhor e ter pessoas com medo de você. Eu sou puro medo, mas nem movo o mundo tanto assim. Eu só sou uma medrosa e você, você ainda tem medo de mim!
Dois medrosos.
Você é de terra e eu de ar, pessoas de terras são muito conservadoras, já os de ar... são mutáveis, acho que é isso que o dá medo. Hã? O que? AMOR? Não, não. Não é amor. É medo. Tenho medo dos regidos por Vênus, são possessivos e moralistas e os de Mercúrio querem voar... sabe seu ascendente? Tudo bem, depois eu descubro pra você. Eu tô com muito medo. E medo é sensualmente bom.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Em cacos

Eu odeio ser tão suscetível. Eu odeio essa facilidade de me tornar dependente das pessoas. Eu também odeio sempre falhar nas tentativas de ser forte. Odeio viver momentos tão felizes e tudo isso mudar tão drasticamente pra dias e noites solitárias e tristes. Por favor, eu peço, não me faça bem, eu nunca pedi isso, me deixe viver a tristeza e a solidão em paz. Quando você for embora, eu não vou sentir sua falta, as coisas continuarão assim, como elas sempre foram. Nenhum momento bom compensa o sentimento de perda que vai me dilacerá. Eu não busco ninguém, não me busque. Quando você me deixar, eu vou me desesperar completamente só, entende, você me entende? Eu não quero escutar que você me quer, quando você deixar de querer, a frase ainda vai martelar na minha cabeça e eu sei que eu vou acreditar em você e vou pensar: "Nunca devia ter acreditado!". Eu sou louca, você não vai me querer mais do que alguns dias e eu precisaria de mais que alguns dias.
Deus! Deus do céu! Como eu tentei ser forte nos últimos dias, e talvez, até tenha sido, mais até do que eu imaginava que podia ser. Pensei coisas felizes e bonitas pra que eu não sentisse a dor que tava gritando aqui dentro. Segurei, mas não posso mais, me segurei pra não chorar e não chorei. Até agora. Eu precisava, precisava que isso fosse embora e precisava aceitar, me conformar que você se foi. E que o "a gente", o "nós", nunca existiu. O que existe é o "eu" e o "você", distintos, separados e em caminhos diferentes. Ai, como você me dói. Como eu sou besta e ridícula. Ridícula, né? Vivo fazendo coisas ridículas. Taí, eu sabia que eu era fraca e besta, não foi nenhuma novidade, no entanto, o ridícula pra mim é novo. Ai, meu Deeeus! Como você me dói! Ou melhor, como eu me dôo(?), você não pode me doer, nem tá em mim, você nem tá aqui. É o "você" que não tá aqui que me dói toda. Mas, tudo bem, eu tenho força suficiente pra sair dessa, mesmo tendo sido idiota(ridícula?) o suficiente pra entrar. Deixa só eu juntar os cacos e comprar uma superbonder, ela cola tudo.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Querido Jonathan,

Mais uma carta que você nunca vai ler. Mais uma vez eu sozinha, essa coisa de me relacionar com alguém que não seja você, é muito complicada pra mim. Meu mundo gira em torno de você, já disse tantas vezes: Você é meu sol, se o sol se apaga, a gente morre. Não me deixa, quer dizer, você nunca me deixou, nunca nem veio. Não me deixa assim, por favor. Segura minha mão e me leva ao ponto de ônibus dessa vez, não me deixa ir embora. Vamos tomar café-da-manhã juntos, eu te amo como eu não sei com quem ou o que comparar. Eu te amo. Muito. Como não se diz,

Tua Adélia.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Máscara

Metade da minha vida está em papéis espalhados por um quarto super bagunçado. Sempre foi compulsivo, obsessivo, rabisca-la em pedaços de papel. Mania de achar o belo dentro de um bombardeio de desorganização que é a minha vida, tão bagunçada quanto meu quarto. Uma vida escrita com toques nojentos de sentimentalismo que eu devo ter absorvido de alguém, ou melhor, que eu deva invejar da vida de alguém. Palavra forte, essa: inveja. Acho que sempre sonhei ser sentimental e invejo quem é, me ponho assim quando escrevo. Mas, eu não sinto nada, estranho isso: não sentir nada. Na verdade, eu sinto, mas, morro de medo de admitir e é isso que eu invejo: coragem de ser fraca. Não há maior forma de humilhação e submissão do que admitir amar alguém. MEDO. Tenho sérios problemas com medo, tenho medo de ser tão ridícula e parecer apaixonada, por isso finjo amar outro, mas nem amo e todo mundo pensa que sim, não me sinto humilhada pois sei que é mentira, mesmo que os outros não saibam. Amo outra pessoa e aqui entre nós, que vocês nunca me investiguem e descubram... Mas, sinto um orgulho imenso quando cada vez mais demonstro que ele é insignificante pra mim, tenho medo dele. Se ele me amasse, eu perderia a guerra, fácil.

sábado, 9 de outubro de 2010

10:30

Eu o liguei. Depois de tanto tempo, eu o liguei. Mandei o ego pro inferno e o liguei. Chamei-o pra comer algo e ele disse que às 10:30 me encontraria no café daquela livraria no centro do Recife, me parecia um programa tão pseudo cult, mas e daí? No dia seguinte, às 10:30, o veria de novo. A madrugada parecia uma eternidade, o sol não queria nascer, um minuto parecia uma hora. Finalmente, o sol nasceu, 5:00 da manhã, mais 5 horas e meia e o encontraria. Eu não dormira e não sentia sequer o mínimo de sono, tava eufórica, meu coração disparado... às 10:30, o veria, sentiria sua mão, seus braços me guardando, aquele cheiro de bergamota e cedro que eu reconheceria de longe, beijos, beijos, beijos, talvez. Já não tinha mais unhas, todas tinham sido roídas. Ensaiava o que iria falar, falaria "eu te amo!", finalmente. Não aguentava mais esse "eu te amo" entalado, ele precisava sair, eu precisava sair também, não aguentava mais ficar em casa, era cedo, mas, eu iria, às 10:30, seria feliz.

Tentei ficar o mais bonita que consegui, às 10:30, eu seria feliz, enfim, seria feliz, agora sim, hoje sim. Cheguei na livraria às 9:00, não conseguia ficar em casa, nem queria fazê-lo esperar... cada segundo era um segundo a menos pra ele chegar, nós conversaríamos, tomaríamos um café e eu diria a ele que mesmo a astrologia não concordando, éramos feitos um pro outro, iguais em tudo, tudo. Éramos um. Acho livros bonitos, gosto de ler, mas não tenho paciência pra ler um só, sempre paro de ler um livro pra começar outro e depois volto, com amores é diferente, sempre o amei, e só. 9:30. Uma hora! Em uma hora, o veria. Fiquei lembrando da voz dele e imaginando a cara que faria quando eu dissesse: "eu te amo!", ele é tão lindo! 10:00.

10:30. Fico olhando o horizonte, só esperando a hora que ele virá caminhando em minha direção. Mas, ele não vem. 10:40, talvez, o relógio dele esteja atrasado 10 minutos, a qualquer momento ele pode chegar e eu serei feliz. 10:50, talvez, o relógio dele esteja atrasado 20 minutos. 11:00, talvez o relógio dele esteja atrasado 20 minutos e o caminho para o meu encontro leve uns 15 minutos pra ser percorrido. 11:10. 11:20. Ligo pra ele, será que aconteceu algo? Ninguém atendeu. Ligo de novo, ele atende e com uma voz de sono, responde: "perdi a hora, não consegui acordar". Olhei pros lados, comecei a procurar Deus, o demônio, um santo, um orixá, um unicórnio, um duende, um anjo, uma fada, ou qualquer coisa que me desse força pra acreditar em algo outra vez. Não havia nada além de prateleiras de livros lindos e pessoas felizes. É engraçado - risos -, é melhor achar engraçado pra que a tristeza não tome conta. É engraçado, ele perdeu a hora, não conseguiu acordar e eu não dormi só por que às 10:30 ia vê-lo. 11:35, e mais uma vez, não foi hoje que eu fui feliz.

domingo, 19 de setembro de 2010

As cartas

Hoje, remexi no passado. Acordei e fui ver do que eu poderia me libertar, achei essa caixa de sapatos velha cheia de cartas destinadas a mesma pessoa. Havia poemas, declarações, desabafos... cartas com datas diferentes, algumas com a diferença de meses, outras de anos. Muitas cartas. Em uma delas eu comentava que naquele dia, eu queria ter ido... eu, sinceramente, queria muito ter ido te ver quando tu me chamaste, pouco tempo antes de tu ires embora, te explicava os motivos de eu ter enlouquecido, tinha medo de nunca mais te ver, eu tenho medo de nunca mais te ver, morro de medo de nunca mais te ver. Também confessava que te seguia, de longe... por que eu queria te ver, mesmo que fosse só o rastro, a resta... eu te segui muitas vezes. Em todas elas, eu dizia como gostava do teu cheiro, mesmo nem o conhecendo bem, não lembro se disse que te amava, não era preciso, isso sempre foi muito escancarado e eu não tinha esse direito. Amar e não poder dizer que ama, quer coisa pior? Coisa mais triste? Eu não podia, nem posso. Eu queria te dizer o meu "eu te amo" entalado, ia ser um "eu te amo" tão poderoso que era capaz de tu me amares também. Eu não tenho direito de sentir isso e tu tens o de não saber, sabendo, fingindo que não sabe. Vou dar um fim a essas cartas, não há por que guardar. Eu vou queimar e jogar as cinzas no ar das cartas que eu nunca te entreguei. Quem sabe qualquer dia desses algumas partículas delas cheguem perto de ti e tu respires e as sinta.