domingo, 12 de dezembro de 2010

Buarqueando

Ácida, fria e assentimental, paradoxalmente com uma alma do eu-lírico feminino buarqueano, sambando e amando Nicanores, amarrada em seus nós de marinheiro, levando sorrisos, retratos, trapos, pratos, de alguns; cantando estribilhos, embalando os filhos de outros; saindo de bar em bar, falando besteiras e me enganando... Esquecendo tudo com ainda outros que chegam arrancando páginas dentro de mim; ensinando todos a não andar com os pés no chão, pois para sempre é sempre por um triz. Acidez, frieza, tudo máscara, maquilagem... na verdade, nos meus olhos fundos, guardo tanta dor, a dor de todo esse mundo e um medo, medo de sofrer e amar um outro Nicanor e viver perguntando por aí por onde ele anda. Às vezes, ele passa ali pela janela, tudo passa pela janela, o tempo, e só eu não vejo. Vivo jurando que tenho coração. Não me apedrejem, ou cuspam, sou tão coitada e tão singela, meu amor é tão grande que não sabe onde parar  e vezenquando acaba cedendo a tentações de bocas cruas. Ainda assim, malvada me penteio e não escuto quem me apela. Malvadeza é sempre medo, medo, medo. E assustada, eu sempre digo não, finjo não querer, sujo teu nome, humilho, me vingo a qualquer preço, peço que tire as mãos de mim, na verdade as desejo com toda paixão e te adoro pelo avesso, quero te chamar, mulato mole, pra dançar dans mes bras, por que tu as le parfum de la cachaça e de suor e eu adoro cheiro de homem brasileiro, assim, tropical, a quem eu quero brincar no corpo feito bailarina e nos músculos exaustos do teu braço repousar frouxa, murcha, farta, morta de cansaço. Enfim, me rendo, pois seus olhos morenos me metem mais medo que um raio de sol. Pois bem, depois de tanta buarquice, meu amigo, se ajeite comigo e dê graças a Deus.