quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Medo

Não sei. Tenho a voz lenta e baixa, gosto da história do mundo, Sartre, hermetismo, chá de erva-doce e principalmente, as estrelas. Eu tento ler as estrelas, cara, e você tem medo de mim. Medo é bom? Eu morro de medo de muitas coisas, envelhecer, amar, da morte... Então eu piro, fugindo do medo, enlouqueço, depois tenho medo de mim e da loucura. É o medo que move o mundo, darling. É o medo de perder o emprego que faz o empregado obedecer ao patrão, é o medo de ir pro inferno que faz o fiel acreditar em tudo que alguém diz ser palavras de Deus e engolir esses conceitos absurdos, você teme a marginalidade e suporta essa polícia corrupta, tem medo do futuro e estuda pra ser o melhor e ter pessoas com medo de você. Eu sou puro medo, mas nem movo o mundo tanto assim. Eu só sou uma medrosa e você, você ainda tem medo de mim!
Dois medrosos.
Você é de terra e eu de ar, pessoas de terras são muito conservadoras, já os de ar... são mutáveis, acho que é isso que o dá medo. Hã? O que? AMOR? Não, não. Não é amor. É medo. Tenho medo dos regidos por Vênus, são possessivos e moralistas e os de Mercúrio querem voar... sabe seu ascendente? Tudo bem, depois eu descubro pra você. Eu tô com muito medo. E medo é sensualmente bom.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Em cacos

Eu odeio ser tão suscetível. Eu odeio essa facilidade de me tornar dependente das pessoas. Eu também odeio sempre falhar nas tentativas de ser forte. Odeio viver momentos tão felizes e tudo isso mudar tão drasticamente pra dias e noites solitárias e tristes. Por favor, eu peço, não me faça bem, eu nunca pedi isso, me deixe viver a tristeza e a solidão em paz. Quando você for embora, eu não vou sentir sua falta, as coisas continuarão assim, como elas sempre foram. Nenhum momento bom compensa o sentimento de perda que vai me dilacerá. Eu não busco ninguém, não me busque. Quando você me deixar, eu vou me desesperar completamente só, entende, você me entende? Eu não quero escutar que você me quer, quando você deixar de querer, a frase ainda vai martelar na minha cabeça e eu sei que eu vou acreditar em você e vou pensar: "Nunca devia ter acreditado!". Eu sou louca, você não vai me querer mais do que alguns dias e eu precisaria de mais que alguns dias.
Deus! Deus do céu! Como eu tentei ser forte nos últimos dias, e talvez, até tenha sido, mais até do que eu imaginava que podia ser. Pensei coisas felizes e bonitas pra que eu não sentisse a dor que tava gritando aqui dentro. Segurei, mas não posso mais, me segurei pra não chorar e não chorei. Até agora. Eu precisava, precisava que isso fosse embora e precisava aceitar, me conformar que você se foi. E que o "a gente", o "nós", nunca existiu. O que existe é o "eu" e o "você", distintos, separados e em caminhos diferentes. Ai, como você me dói. Como eu sou besta e ridícula. Ridícula, né? Vivo fazendo coisas ridículas. Taí, eu sabia que eu era fraca e besta, não foi nenhuma novidade, no entanto, o ridícula pra mim é novo. Ai, meu Deeeus! Como você me dói! Ou melhor, como eu me dôo(?), você não pode me doer, nem tá em mim, você nem tá aqui. É o "você" que não tá aqui que me dói toda. Mas, tudo bem, eu tenho força suficiente pra sair dessa, mesmo tendo sido idiota(ridícula?) o suficiente pra entrar. Deixa só eu juntar os cacos e comprar uma superbonder, ela cola tudo.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Querido Jonathan,

Mais uma carta que você nunca vai ler. Mais uma vez eu sozinha, essa coisa de me relacionar com alguém que não seja você, é muito complicada pra mim. Meu mundo gira em torno de você, já disse tantas vezes: Você é meu sol, se o sol se apaga, a gente morre. Não me deixa, quer dizer, você nunca me deixou, nunca nem veio. Não me deixa assim, por favor. Segura minha mão e me leva ao ponto de ônibus dessa vez, não me deixa ir embora. Vamos tomar café-da-manhã juntos, eu te amo como eu não sei com quem ou o que comparar. Eu te amo. Muito. Como não se diz,

Tua Adélia.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Máscara

Metade da minha vida está em papéis espalhados por um quarto super bagunçado. Sempre foi compulsivo, obsessivo, rabisca-la em pedaços de papel. Mania de achar o belo dentro de um bombardeio de desorganização que é a minha vida, tão bagunçada quanto meu quarto. Uma vida escrita com toques nojentos de sentimentalismo que eu devo ter absorvido de alguém, ou melhor, que eu deva invejar da vida de alguém. Palavra forte, essa: inveja. Acho que sempre sonhei ser sentimental e invejo quem é, me ponho assim quando escrevo. Mas, eu não sinto nada, estranho isso: não sentir nada. Na verdade, eu sinto, mas, morro de medo de admitir e é isso que eu invejo: coragem de ser fraca. Não há maior forma de humilhação e submissão do que admitir amar alguém. MEDO. Tenho sérios problemas com medo, tenho medo de ser tão ridícula e parecer apaixonada, por isso finjo amar outro, mas nem amo e todo mundo pensa que sim, não me sinto humilhada pois sei que é mentira, mesmo que os outros não saibam. Amo outra pessoa e aqui entre nós, que vocês nunca me investiguem e descubram... Mas, sinto um orgulho imenso quando cada vez mais demonstro que ele é insignificante pra mim, tenho medo dele. Se ele me amasse, eu perderia a guerra, fácil.

sábado, 9 de outubro de 2010

10:30

Eu o liguei. Depois de tanto tempo, eu o liguei. Mandei o ego pro inferno e o liguei. Chamei-o pra comer algo e ele disse que às 10:30 me encontraria no café daquela livraria no centro do Recife, me parecia um programa tão pseudo cult, mas e daí? No dia seguinte, às 10:30, o veria de novo. A madrugada parecia uma eternidade, o sol não queria nascer, um minuto parecia uma hora. Finalmente, o sol nasceu, 5:00 da manhã, mais 5 horas e meia e o encontraria. Eu não dormira e não sentia sequer o mínimo de sono, tava eufórica, meu coração disparado... às 10:30, o veria, sentiria sua mão, seus braços me guardando, aquele cheiro de bergamota e cedro que eu reconheceria de longe, beijos, beijos, beijos, talvez. Já não tinha mais unhas, todas tinham sido roídas. Ensaiava o que iria falar, falaria "eu te amo!", finalmente. Não aguentava mais esse "eu te amo" entalado, ele precisava sair, eu precisava sair também, não aguentava mais ficar em casa, era cedo, mas, eu iria, às 10:30, seria feliz.

Tentei ficar o mais bonita que consegui, às 10:30, eu seria feliz, enfim, seria feliz, agora sim, hoje sim. Cheguei na livraria às 9:00, não conseguia ficar em casa, nem queria fazê-lo esperar... cada segundo era um segundo a menos pra ele chegar, nós conversaríamos, tomaríamos um café e eu diria a ele que mesmo a astrologia não concordando, éramos feitos um pro outro, iguais em tudo, tudo. Éramos um. Acho livros bonitos, gosto de ler, mas não tenho paciência pra ler um só, sempre paro de ler um livro pra começar outro e depois volto, com amores é diferente, sempre o amei, e só. 9:30. Uma hora! Em uma hora, o veria. Fiquei lembrando da voz dele e imaginando a cara que faria quando eu dissesse: "eu te amo!", ele é tão lindo! 10:00.

10:30. Fico olhando o horizonte, só esperando a hora que ele virá caminhando em minha direção. Mas, ele não vem. 10:40, talvez, o relógio dele esteja atrasado 10 minutos, a qualquer momento ele pode chegar e eu serei feliz. 10:50, talvez, o relógio dele esteja atrasado 20 minutos. 11:00, talvez o relógio dele esteja atrasado 20 minutos e o caminho para o meu encontro leve uns 15 minutos pra ser percorrido. 11:10. 11:20. Ligo pra ele, será que aconteceu algo? Ninguém atendeu. Ligo de novo, ele atende e com uma voz de sono, responde: "perdi a hora, não consegui acordar". Olhei pros lados, comecei a procurar Deus, o demônio, um santo, um orixá, um unicórnio, um duende, um anjo, uma fada, ou qualquer coisa que me desse força pra acreditar em algo outra vez. Não havia nada além de prateleiras de livros lindos e pessoas felizes. É engraçado - risos -, é melhor achar engraçado pra que a tristeza não tome conta. É engraçado, ele perdeu a hora, não conseguiu acordar e eu não dormi só por que às 10:30 ia vê-lo. 11:35, e mais uma vez, não foi hoje que eu fui feliz.