domingo, 12 de dezembro de 2010

Buarqueando

Ácida, fria e assentimental, paradoxalmente com uma alma do eu-lírico feminino buarqueano, sambando e amando Nicanores, amarrada em seus nós de marinheiro, levando sorrisos, retratos, trapos, pratos, de alguns; cantando estribilhos, embalando os filhos de outros; saindo de bar em bar, falando besteiras e me enganando... Esquecendo tudo com ainda outros que chegam arrancando páginas dentro de mim; ensinando todos a não andar com os pés no chão, pois para sempre é sempre por um triz. Acidez, frieza, tudo máscara, maquilagem... na verdade, nos meus olhos fundos, guardo tanta dor, a dor de todo esse mundo e um medo, medo de sofrer e amar um outro Nicanor e viver perguntando por aí por onde ele anda. Às vezes, ele passa ali pela janela, tudo passa pela janela, o tempo, e só eu não vejo. Vivo jurando que tenho coração. Não me apedrejem, ou cuspam, sou tão coitada e tão singela, meu amor é tão grande que não sabe onde parar  e vezenquando acaba cedendo a tentações de bocas cruas. Ainda assim, malvada me penteio e não escuto quem me apela. Malvadeza é sempre medo, medo, medo. E assustada, eu sempre digo não, finjo não querer, sujo teu nome, humilho, me vingo a qualquer preço, peço que tire as mãos de mim, na verdade as desejo com toda paixão e te adoro pelo avesso, quero te chamar, mulato mole, pra dançar dans mes bras, por que tu as le parfum de la cachaça e de suor e eu adoro cheiro de homem brasileiro, assim, tropical, a quem eu quero brincar no corpo feito bailarina e nos músculos exaustos do teu braço repousar frouxa, murcha, farta, morta de cansaço. Enfim, me rendo, pois seus olhos morenos me metem mais medo que um raio de sol. Pois bem, depois de tanta buarquice, meu amigo, se ajeite comigo e dê graças a Deus.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Medo

Não sei. Tenho a voz lenta e baixa, gosto da história do mundo, Sartre, hermetismo, chá de erva-doce e principalmente, as estrelas. Eu tento ler as estrelas, cara, e você tem medo de mim. Medo é bom? Eu morro de medo de muitas coisas, envelhecer, amar, da morte... Então eu piro, fugindo do medo, enlouqueço, depois tenho medo de mim e da loucura. É o medo que move o mundo, darling. É o medo de perder o emprego que faz o empregado obedecer ao patrão, é o medo de ir pro inferno que faz o fiel acreditar em tudo que alguém diz ser palavras de Deus e engolir esses conceitos absurdos, você teme a marginalidade e suporta essa polícia corrupta, tem medo do futuro e estuda pra ser o melhor e ter pessoas com medo de você. Eu sou puro medo, mas nem movo o mundo tanto assim. Eu só sou uma medrosa e você, você ainda tem medo de mim!
Dois medrosos.
Você é de terra e eu de ar, pessoas de terras são muito conservadoras, já os de ar... são mutáveis, acho que é isso que o dá medo. Hã? O que? AMOR? Não, não. Não é amor. É medo. Tenho medo dos regidos por Vênus, são possessivos e moralistas e os de Mercúrio querem voar... sabe seu ascendente? Tudo bem, depois eu descubro pra você. Eu tô com muito medo. E medo é sensualmente bom.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Em cacos

Eu odeio ser tão suscetível. Eu odeio essa facilidade de me tornar dependente das pessoas. Eu também odeio sempre falhar nas tentativas de ser forte. Odeio viver momentos tão felizes e tudo isso mudar tão drasticamente pra dias e noites solitárias e tristes. Por favor, eu peço, não me faça bem, eu nunca pedi isso, me deixe viver a tristeza e a solidão em paz. Quando você for embora, eu não vou sentir sua falta, as coisas continuarão assim, como elas sempre foram. Nenhum momento bom compensa o sentimento de perda que vai me dilacerá. Eu não busco ninguém, não me busque. Quando você me deixar, eu vou me desesperar completamente só, entende, você me entende? Eu não quero escutar que você me quer, quando você deixar de querer, a frase ainda vai martelar na minha cabeça e eu sei que eu vou acreditar em você e vou pensar: "Nunca devia ter acreditado!". Eu sou louca, você não vai me querer mais do que alguns dias e eu precisaria de mais que alguns dias.
Deus! Deus do céu! Como eu tentei ser forte nos últimos dias, e talvez, até tenha sido, mais até do que eu imaginava que podia ser. Pensei coisas felizes e bonitas pra que eu não sentisse a dor que tava gritando aqui dentro. Segurei, mas não posso mais, me segurei pra não chorar e não chorei. Até agora. Eu precisava, precisava que isso fosse embora e precisava aceitar, me conformar que você se foi. E que o "a gente", o "nós", nunca existiu. O que existe é o "eu" e o "você", distintos, separados e em caminhos diferentes. Ai, como você me dói. Como eu sou besta e ridícula. Ridícula, né? Vivo fazendo coisas ridículas. Taí, eu sabia que eu era fraca e besta, não foi nenhuma novidade, no entanto, o ridícula pra mim é novo. Ai, meu Deeeus! Como você me dói! Ou melhor, como eu me dôo(?), você não pode me doer, nem tá em mim, você nem tá aqui. É o "você" que não tá aqui que me dói toda. Mas, tudo bem, eu tenho força suficiente pra sair dessa, mesmo tendo sido idiota(ridícula?) o suficiente pra entrar. Deixa só eu juntar os cacos e comprar uma superbonder, ela cola tudo.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Querido Jonathan,

Mais uma carta que você nunca vai ler. Mais uma vez eu sozinha, essa coisa de me relacionar com alguém que não seja você, é muito complicada pra mim. Meu mundo gira em torno de você, já disse tantas vezes: Você é meu sol, se o sol se apaga, a gente morre. Não me deixa, quer dizer, você nunca me deixou, nunca nem veio. Não me deixa assim, por favor. Segura minha mão e me leva ao ponto de ônibus dessa vez, não me deixa ir embora. Vamos tomar café-da-manhã juntos, eu te amo como eu não sei com quem ou o que comparar. Eu te amo. Muito. Como não se diz,

Tua Adélia.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Máscara

Metade da minha vida está em papéis espalhados por um quarto super bagunçado. Sempre foi compulsivo, obsessivo, rabisca-la em pedaços de papel. Mania de achar o belo dentro de um bombardeio de desorganização que é a minha vida, tão bagunçada quanto meu quarto. Uma vida escrita com toques nojentos de sentimentalismo que eu devo ter absorvido de alguém, ou melhor, que eu deva invejar da vida de alguém. Palavra forte, essa: inveja. Acho que sempre sonhei ser sentimental e invejo quem é, me ponho assim quando escrevo. Mas, eu não sinto nada, estranho isso: não sentir nada. Na verdade, eu sinto, mas, morro de medo de admitir e é isso que eu invejo: coragem de ser fraca. Não há maior forma de humilhação e submissão do que admitir amar alguém. MEDO. Tenho sérios problemas com medo, tenho medo de ser tão ridícula e parecer apaixonada, por isso finjo amar outro, mas nem amo e todo mundo pensa que sim, não me sinto humilhada pois sei que é mentira, mesmo que os outros não saibam. Amo outra pessoa e aqui entre nós, que vocês nunca me investiguem e descubram... Mas, sinto um orgulho imenso quando cada vez mais demonstro que ele é insignificante pra mim, tenho medo dele. Se ele me amasse, eu perderia a guerra, fácil.

sábado, 9 de outubro de 2010

10:30

Eu o liguei. Depois de tanto tempo, eu o liguei. Mandei o ego pro inferno e o liguei. Chamei-o pra comer algo e ele disse que às 10:30 me encontraria no café daquela livraria no centro do Recife, me parecia um programa tão pseudo cult, mas e daí? No dia seguinte, às 10:30, o veria de novo. A madrugada parecia uma eternidade, o sol não queria nascer, um minuto parecia uma hora. Finalmente, o sol nasceu, 5:00 da manhã, mais 5 horas e meia e o encontraria. Eu não dormira e não sentia sequer o mínimo de sono, tava eufórica, meu coração disparado... às 10:30, o veria, sentiria sua mão, seus braços me guardando, aquele cheiro de bergamota e cedro que eu reconheceria de longe, beijos, beijos, beijos, talvez. Já não tinha mais unhas, todas tinham sido roídas. Ensaiava o que iria falar, falaria "eu te amo!", finalmente. Não aguentava mais esse "eu te amo" entalado, ele precisava sair, eu precisava sair também, não aguentava mais ficar em casa, era cedo, mas, eu iria, às 10:30, seria feliz.

Tentei ficar o mais bonita que consegui, às 10:30, eu seria feliz, enfim, seria feliz, agora sim, hoje sim. Cheguei na livraria às 9:00, não conseguia ficar em casa, nem queria fazê-lo esperar... cada segundo era um segundo a menos pra ele chegar, nós conversaríamos, tomaríamos um café e eu diria a ele que mesmo a astrologia não concordando, éramos feitos um pro outro, iguais em tudo, tudo. Éramos um. Acho livros bonitos, gosto de ler, mas não tenho paciência pra ler um só, sempre paro de ler um livro pra começar outro e depois volto, com amores é diferente, sempre o amei, e só. 9:30. Uma hora! Em uma hora, o veria. Fiquei lembrando da voz dele e imaginando a cara que faria quando eu dissesse: "eu te amo!", ele é tão lindo! 10:00.

10:30. Fico olhando o horizonte, só esperando a hora que ele virá caminhando em minha direção. Mas, ele não vem. 10:40, talvez, o relógio dele esteja atrasado 10 minutos, a qualquer momento ele pode chegar e eu serei feliz. 10:50, talvez, o relógio dele esteja atrasado 20 minutos. 11:00, talvez o relógio dele esteja atrasado 20 minutos e o caminho para o meu encontro leve uns 15 minutos pra ser percorrido. 11:10. 11:20. Ligo pra ele, será que aconteceu algo? Ninguém atendeu. Ligo de novo, ele atende e com uma voz de sono, responde: "perdi a hora, não consegui acordar". Olhei pros lados, comecei a procurar Deus, o demônio, um santo, um orixá, um unicórnio, um duende, um anjo, uma fada, ou qualquer coisa que me desse força pra acreditar em algo outra vez. Não havia nada além de prateleiras de livros lindos e pessoas felizes. É engraçado - risos -, é melhor achar engraçado pra que a tristeza não tome conta. É engraçado, ele perdeu a hora, não conseguiu acordar e eu não dormi só por que às 10:30 ia vê-lo. 11:35, e mais uma vez, não foi hoje que eu fui feliz.

domingo, 19 de setembro de 2010

As cartas

Hoje, remexi no passado. Acordei e fui ver do que eu poderia me libertar, achei essa caixa de sapatos velha cheia de cartas destinadas a mesma pessoa. Havia poemas, declarações, desabafos... cartas com datas diferentes, algumas com a diferença de meses, outras de anos. Muitas cartas. Em uma delas eu comentava que naquele dia, eu queria ter ido... eu, sinceramente, queria muito ter ido te ver quando tu me chamaste, pouco tempo antes de tu ires embora, te explicava os motivos de eu ter enlouquecido, tinha medo de nunca mais te ver, eu tenho medo de nunca mais te ver, morro de medo de nunca mais te ver. Também confessava que te seguia, de longe... por que eu queria te ver, mesmo que fosse só o rastro, a resta... eu te segui muitas vezes. Em todas elas, eu dizia como gostava do teu cheiro, mesmo nem o conhecendo bem, não lembro se disse que te amava, não era preciso, isso sempre foi muito escancarado e eu não tinha esse direito. Amar e não poder dizer que ama, quer coisa pior? Coisa mais triste? Eu não podia, nem posso. Eu queria te dizer o meu "eu te amo" entalado, ia ser um "eu te amo" tão poderoso que era capaz de tu me amares também. Eu não tenho direito de sentir isso e tu tens o de não saber, sabendo, fingindo que não sabe. Vou dar um fim a essas cartas, não há por que guardar. Eu vou queimar e jogar as cinzas no ar das cartas que eu nunca te entreguei. Quem sabe qualquer dia desses algumas partículas delas cheguem perto de ti e tu respires e as sinta.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Eu sou um peixe

Meu pai sempre criou peixes. Quando criança, eu via meus vizinhos, colegas de escola, com gatos, cachorros, pintinhos coloridos e eu nunca tive nenhum bichinho, só peixes. Ontem mesmo ele lavou o aquário e comprou uns peixes novos. Peixe não faz barulho, nem carinho, não tem sentimento, é sangue frio! Igualzinho ao meu pai, deve ser por isso que ele só gosta de peixe e de tanto conviver com peixes, me tornei peixe, assim, sem carinho nenhum por quem me alimenta, ou noção do bem de quem o faz me quer. Ele nasceu pra criar peixes e eu sou mais uma espécie, filha de um peixe, cercada de outros.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Saudade

Tenho saudade
Não sei do que
ou por que.
Saudade de sonhar, talvez
e acordar com reservas de esperança.
Saudade de não saber
que o que não aconteceu
não aconteceria.
Saudade da tua voz dizendo "eu te amo"
dos carinhos
do teu corpo quente
do café bem forte
ou corpo forte e café quente
tanto faz.
Saudade da tua calma
dos teus olhos
de não pensar em mais nada.

Dei pra pensar em outras coisas
não levou muito tempo
pras esperanças não mais se renovarem
e saber que sinto saudade
do que nunca existiu.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Pesadelo

Sonho que você é meu e morre.
Choro.
Acordo.
Tudo era um pesadelo!
Graças à Deus!
Você não morreu!
Mas, também nem é meu.
Choro.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Estática

Eu devia ter ficado acordada
Mas
Passei muito tempo adormecida.
Anestesiada.

Você levantou
Eu devia ter ido atrás
Mas
Fiquei deitada.
Inerte.

Você foi embora
Eu devia ter levantado.
Preguiçosa
Fiquei parada
Atônita.

Você desceu as escadas
Eu devia ter corrido atrás
Mas
Sentei
E me mantive sentada...
Confusa, imóvel.

Pela janela
O vi passando pelo portão
Eu devia ter gritado
Eu te amo bem alto
Mas
Eu
É, eu fiquei calada.
Estática.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

O dia em que o tempo parou

Aquele dia
o tempo parou.

Eu e você.
O mundo parou
Só nós existíamos
Não sabia então
o poder que os braços de alguém poderia ter.

Nos teus braços
abraços
e o tempo parou.

Até mesmo o tempo
que não perdoa ninguém,
contraditoriamente,
cura tudo e
faz esquecer.

Até o tempo
que é eterno
incessante
que marca
cada segundo,
milésimo,
milésimo de segundo.

Até o tempo,
aquele dia,
parou.
Parou mais uma, duas vezes
Prá nunca mais parar.

Nunca mais o tempo parou.
Fico esperando a hora em que o
tempo trará minha cura.

Deus Cronos!
Faz-me esquecer das pausas do tempo.

sábado, 12 de junho de 2010

Eu te amo

Eu preciso dizer.
Faz tempo...
Eu preciso dizer
Mas, é... bem...
Sabe eu?
Bem, eu
Eu preciso respirar, espera
Bem... Eu...
Gosto muito de...
Água! Vou beber água
Espera.

Como eu tava dizendo...
Sabe eu?
Eu... quer dizer...
Sabe você?
É, você!
Você é, bem...
Quer dizer, eu sou.
Na verdade não é ser
É estar, eu estou...
Vou acender um cigarro, quer?
Espera.

Bem, é o seguinte...
Nós, é, nós.
Nós somos
Não!
Nós estamos, quer dizer
Eu estou...
Diferente, é, eu estou estranha.
Eu não sei.
Vou respirar de novo, só um segundo agora
Espera.

Esquece tudo o que eu falei
Vou tentar de novo
Mas, agora
Quero que você olhe nos meus olhos
Já disse que seus olhos são lindos, não é?
Bem, olha nos meus olhos!
Nossa! Hoje...
Eles estão mais lindos do que nunca!
Poderia ficar olhando assim pra eles
Pra sempre, mas
Bem, preciso dizer
É... me abraça?
Mais forte?
Não me solta?
Bem, na verdade
Acho que é isso...
A parte do não me solta, saca?

domingo, 23 de maio de 2010

Válvula de escape

Eu quero mesmo é viver
Nem bem, nem mal
Quero só viver
Desprendida de todos os desejos de felicidade
Com memória descartável
E o agora que é passado
antes que você chegue no ponto final
Quero aproveitar ao máximo esse sopro de Deus
seja ele o que for...
seja eu, deus.
Quero quebrar a cada milésimo de segundo
a vidraça finíssima do momento presente
Tão frágil, quase imperceptível
que a gente sai quebrando todo dia
e nem percebe.
Eu quero ver minusciosamente
a vidraça - tão fina que parece película -,
sendo estraçalhada
analisar cada minúsculo detalhe
ver seus cacos cortando meus pés...
Quero sangue no meu agora
Paixão e dor!
Ou um amor calmo e recíproco, quem sabe
Pra pôr fim a esse amor por alguém
que a memória descartável não descarta, nunca.
Há bilhões de pessoas no mundo pra serem amadas
Preciso encontrar uma
antes que eu enlouqueça
Preciso achar a cura pra o meu agora solitário
Cuidar das feridas
Esquecer o passado e futuro
Viver!
A vida está acontecendo, darling
Vê se aprende!
Preciso achar quem(?)
Eu achei, mas não o acho nunca.
Por isso eu ainda escrevo
pra não cair de vez
na loucura.

sábado, 15 de maio de 2010

Declaração ao vinho barato

Quando entras em mim
causas tempestade
Quando corres em minhas veias
Até correr, eu corro.
Se já não sou normal sem ti
Sou menos contigo
Se já sou pervertida sem ti
Contigo, sou a puta mais baixa
do mais baixo cabaré.
Se falo alto sem ti
Contigo, nem preciso de microfones
Queria aderir a todas noções da moral cristã
Mas, é contigo que
De fato
Sou.
Pois, tu me consolaste
Desde o dia que ele se foi
Contigo, sou mais eu
meus desejos
minha carne.
Pois, contigo
esqueço ele.
Contigo...
Sou de todos os outros.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Vamos indo...

Vamos embora
Vamos embora daqui
O nosso desejo atingiu o limite
Do que se pode ser feito
e visto em/pelo público.

Vamos indo
Fujamos!
O teu desejo já é
tão forte
querendo explodir.
Ninguém precisa saber de nós.
Vamos indo.

Corramos dos olhos alheios
Corramos do pudor
Saiamos da luz
Fiquemos cegos no escuro
percorrendo com mãos os lugares mais
obscuros dos nossos corpos.

Quero tua língua
descobrindo minhas brenhas mais inexploradas
E o som da tua voz
balbuciando algo que
devido a tua respiração ofegante
não consigo decifrar.

Vamos indo
A vida é agora
O amanhã não existe
Esta noite, temos um ao outro
Sejamos os melhores amantes
mais bem-amados.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Sobra nada pra alguém

Eu poderia procurar alguém
Poderia, então, achar alguém
Tentar amar alguém
Ao menos, gostar
Eu poderia gostar de alguém.

Eu poderia me entregar a alguém
Dar chance a alguém
Segurar a mão de alguém
E esperar que não solte
Caminharmos além
Para o horizonte esperando alguém
e eu.

Mas, não quero
falar as poesias
os "eu te amo tanto"
as declarações mais lindas
ensaiados milhares de vezes no espelho.
Não quero que seja de alguém
O que foi feito pra você.

Eu poderia dar meu coração a alguém
Então, fazer poesias
ensaiar "eu te amo" e declarações pra alguém.
Mas, eu não tenho poder
sobre o que não é meu.
E meu coração,
muito "bregamente",
é seu
E você nem sabe
Ou não acredita.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Pra rimar com amor

Inconscientemente
Não gosto de versos brancos.
Sem que eu perceba
Faço rimas que não desejo
Tive chances de combinar
amor e estabilidade
amor e companheirismo
amor e felicidade
Mas, teimo em rimar
amor e dor.

Se não há dor
não há amor
pra combinar
ou rimar
com nada.
Amar é sofrer.
Amor que não dói
some.
Nem lembrado é.
MORRE.
E deixa nada.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Das duas, uma...

Morro de medo de descobrir
que tu és invenção minha.
Se teu cheiro é inventado,
Se tua voz é inventada,
Se teus olhos foram inventados,
Se o jeito que te moves é inventado,
Se todo este sentimento é inventado,
Se és vertigem,
Se a tua não-existência me anula...
Meu Deus!
Das duas, uma...
ou sou louca
ou sou poeira.

Inspirado pelo texto de 29/03/2010:

Não importa mais os que os outros possam pensar de mim. Os rótulos que possam me dar, deixei de me preocupar com isso desde que eu percebi que não há formas de te roubar pra mim. Ser agradável e politicamente correto não me ajudaria nada. Eu perderia vida, só. Ando morrendo pouquinho aqui, pouquinho ali. E não me importa que eu morra, um dia todos vão... todos caminham nessa, pra mim, longa estrada com o mesmo destino. Eu apresso o passo por não querer caminhar sem esperança de esbarrar na tua caminhada. Excedo por que sei que não me apoias, nem recriminas, não fazes nada, não pensas nada e só o que pensas me interessa. Não há mais nada! Nunca houve. Tenho pra mim que todo o filme rodando na minha mente foi vertigem, pode até ser que sejas vertigem, eu seja vertigem também! Lembrança viva de alguém vibrando no espaço, lembrança muito viva, morta sem ti - odeio ti-, lembrança que não morre pela vivacidade que alguém a deu. Lembrança de algo que não existiu, ou que existiu mas, não da forma que é lembrada. Então, se foste criado por mim que sou lembrança de alguém, tu não existes. Se pensar na tua não-existência me anula, como eu vou existir? Meu Deus! Meu Deus! Eu sou poeira.

domingo, 11 de abril de 2010

Despedindo-se pra nunca mais

Destrua seu corpo
Aproveite o máximo
de prazer
que a caixinha da sua alma
possa oferecer.

Embriague-se
Ponha a prova seu fígado
E a ética.

Drogue-se
Fique torpe
E viaje dentro de si.

Ame!
Ame todos.
Por fim, escolha alguém
E transe só com essa pessoa
Até o fim da sua vida.

Case-se
Tenha cinco filhos
Chame a primeira menina: Isabela
Lembre de mim
Toda vez que gritar por ela.
Peça a Deus pra sua Isabela
Nunca parecer comigo
Nem com você.

Morra!
Morra com a paz de ter vivido
Se destruído,
Se embriagado,
Se drogado,
Amado,
Casado,
Procriado
E sido tão bem amado
por Isabelas.

domingo, 4 de abril de 2010

Freud explica

Ponha-se exposto
Fale-nos da sua vida
Confesse seu gosto
Conte seus problemas
Peça-nos ajuda
Faremos o que pudermos
Pra acabar com seus medos.

Se não trouxermos a cura
Não fique assim!
Não queira a cura.
Ao menos satisfação terá
Não se envergonhe da sua libido
Viemos aqui pra escutar
Fazer
Sofrer
Pra amar
Dar prazer
A eles, a nós, a você.

Pergunte-nos
Temos todas as respostas
E todas as perguntas.

Encontre-se em cada um
Dentro de cada um
Dos nossos cada um
E se ainda estiver perdido
Pergunte-nos de novo
Também temos dúvidas
Então, encontre-se em nossas dúvidas
Pois, pras perguntas não respondidas...
Freud explica, baby.

quarta-feira, 31 de março de 2010

rápido e suficiente

Não vou tentar mais, eu desisto pela última vez. Cansei de desistir sempre. Mas, eu sei que você vai me beijar esta noite, este sonho. Amanhã eu vou acordar com os olhos brilhando e com as esperanças renovadas. Te amo, Jonathan. Tanto! Você nem sabe, ninguém sabe o que eu já pensei por você. Ninguém.

terça-feira, 23 de março de 2010

Sobre Heloísa

Eu sinto demais, saca? Finjo que não sinto. Ando mistificando fatos, fantasiando. Dessa vez a fantasia tem sido mais racional, algo social, ou político. Econômico, talvez. Também.

Mas, quando a grande Heloísa resolve entrar em ação, acaba com meu ego, me dá uma baita de uma ressaca moral. A racionalidade foge de cena. Entende?

Queria falar com ela. Mas, quando ela chega, eu vou embora. Minha razão vai embora, às vezes, ela chega do nada. Ela vai me matando sempre, sempre. A neve não veio, nem a chuva veio. Não sei se vale a pena proteger quem não precisa de proteção. Quem sabe fosse melhor não chamar a neve e dizer de uma vez e xingar e gritar? Quando Heloísa vem, eu perco os sentidos, perco o senso, acho tudo normal. Mas, nem Heloísa resiste a proteger. Nem Heloísa. E olhe que Heloísa não respeita ninguém. Heloísa não tem pudor. Mas, ela vira pudor, proteção, medo. Heloísa não ama. E até Heloísa vira amor pra/por ele. Não quero mais que Heloísa venha. Ela me faz lembrar de coisas que eu não gosto de lembrar. Lembrar que eu ainda quero algumas coisas e que ainda há vida em mim. É tão esperançosa. Eu nem acredito que ela possa ter isso, saco! Heloísa, porra! Vá se foder, sua vaca! Vá embora, não precisa de você, nem de mim, de nós, de ninguém.


quarta-feira, 17 de março de 2010

Game over

Eu não planejava me apaixonar nos próximos dez anos, pretendia que tudo fosse quieto, sem emoções. Me mantive apática a todas as possibilidades de amor, não me permiti envolver com pessoas que sei que teria dado certo. Por muito tempo, quando sentia aquele friozinho na barriga, eu já dava o fora, quando desejava tá perto de alguém, já tentava não pensar nele. Entrei num estágio em que eu queria vingar-me de todos os homens e fazê-los sofrer da mesma forma que eu já sofri. Comecei a aprender joguinhos de sedução, olhares, bocas, usar de tudo o que eu já li/vi/ouvi pra brincar de conquistas e de mulher fatal de batom vermelho, cigarro na mão e um copo de vodka. Não sei se foi ter deixado o batom vermelho de lado, ou ter parado de fumar que fez as coisas desandarem, talvez, vai saber. Eu sei que antes que eu pudesse me esquivar, me armar toda e fazer tudo como de costume, eu já tava no jogo de outra pessoa, não era o meu. Eu tava descuidada e fazia tanto tempo que não me interessava por nada que esqueci quando as coisas passavam a ficar perigosas. Quando percebi já tava lá dentro e só podia sair no final do jogo, precisava batalhar, sobreviver, lutar e fazia tempo que eu não guerreava... não no play 2, eu só jogava no play 1 e os meus jogos. Tava jogando um jogo diferente e a preferência sempre é do play 1... eu não tinha muito o que fazer, a não ser jogar com ele. Passamos todos os estágios do jogo, ele sempre ganhando de mim, eu cada vez mais fraca, com o "life" acabando. Chegou a batalha final e ele me venceu, eu teimosa, fui no "continue". Ele já sabia os meus pontos fracos no jogo, ficou mais fácil, chegamos ao último estágio de novo e ele me derrotou, again. Fiquei lá no chão tentando me recuperar, ainda tentaria o "continue" mais uma vez, mas, agora era "GAME OVER". Na minha tela, na minha mente, eu li: "YOU LOST, GIRL, HE'S THE WINNER!"

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Nunca-amor

Não falarei mais de amor
Essa palavra luxuosa e esnobe
Que me sai tão doce da boca
e me entra
tão dura e espinhosa
no coração já tão amargurado.

Mais que não falar
Não pensarei mais no amor
Não criarei mais fantasias
Não vou me desmanchar com palavras bonitas
e galanteios
Não pedirei a Deus que desta vez seja verdade
Que seja o meu bem
Que eu seja um bem também.

Amor é uma desgraça.
Eu sou desgraçada, toda desgraçada
Tenho tanto amor acumulado
tanto amor não dado
Quando eu decido dar a alguém
É amor demais, é sufocante,
assustador, pavoroso,
nervoso,
paranóico.
É louco e amedronta
o ser/objeto amado.

Mais que não falar
Mais que não pensar
Não vou mais suspirar
Não vou deixar que meus olhos brilhem
E que eu ria sozinha
Daquele jeito...
mordendo o canto dos lábios
e olhando pro nada.

Não simularei situações.
Não esperarei encontros
abraços
beijos
cheiros, você
eu, mãos.
Não sonharei mais.
Não amarei mais.
Nunca!
Nunca mais!
Never more!


terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Desinteressada

Não quero ouvir mais sobre amor
O amor é vergonhoso e frustrante
Eu maldigo todos os tipos de amantes
De todos tenho náusea e pavor.

Quero manter uma natureza fria
Depois de ter feito tanta loucura
Pois nem mesmo na terapia
Eu achei a minha cura.

A você, baby, eu digo
Não vá por esse caminho
Boy, fuja do perigo!
Não ame!

Um dia, tive amor escorrendo pelos poros
Pela boca, pelas mãos...
E depois pelos olhos
Hoje, do amor, eu quero nada!
O que quer que eu tinha de pagar, eu já paguei
Eu aprendi a não-amar
Mas, só Deus sabe o quanto que eu amei.

Não quero fantasias
Quero realidades!
E a realidade é o carma de ser mal-amada
Me acostumei com a minha condição
Já endureci meu coração
E se você ainda quiser me propor algum tipo de paixão
Obrigada, boy, não estou interessada.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

anotações sem sentido, causa e finalidade

É interessante a forma com que as coisas acontecem e deixam de acontecer. Tudo no mundo é relativo, é tudo muito instável. As coisas mudam, as pessoas mudam, a vida acontece, você querendo, ou não. Não concordo com o Renato Russo quando ele diz "a primeira vez é sempre a última chance", as oportunidades são feitas pra você e se não aconteceu daquela vez, vai aparecer pra você de novo. Se não aconteceu, a chance não era sua, era tudo ilusão. Eu pretendia falar de paixão, creio que não tenha fugido tanto do assunto, afinal, ilusão, mudança, pessoas, vida, instabilidade têm tudo a ver- é a ver mesmo e não haver, pelo amor de Deus- com paixão. Eu tava observando o quanto de defeito que aparece depois que ela passa. Paixão é uma doença que afeta toda a razão da criatura, a barreira existente entre o "eu" e o "tu" é quebrada. O eu se quebra todo e se mistura com o tu, o eu quer mais do que TER o tu, o eu quer SER o tu. Ele quer lutar pra chegar a ser, ele quer VIR A SER. De forma alguma eu quero estender uma discussão filosófica sobre paixão, até por que eu não sou profunda conhecedora de Kierkegaard pra tá aqui citando ele. Mas, fica mais simples entender quando a gente lembra que a paixão cega, tudo que o outro faz é bonito, é melhor. Alguns chegam até a viver só a vida do outro, em casos extremos. Mas, a minha atual atenção está virada aos ex-apaixonados, sobre o que a gente se torna depois de uma paixão mal sucedida. Uns se isolam, outros se jogam no mundo, no entanto, todos mudam depois de uma paixão "rocheda"*.Paixão é neurose. Umas viram santa, outras viram puta. Cada um tem a sua forma de fugir do sofrimento. Eu, escolhi nada. Na verdade, eu tava/tô exausta de correr e chegar em lugar nenhum, tinha/tenho preguiça dos processos de iniciação no jogo. Eu, simplesmente, mudava de assunto e continuava correndo. Mas, correr também cansa e eu cheguei a um estágio que nem mais fugir eu queria/quero, eu só mudava/mudo de assunto mesmo. Inclusive, tô precisando mudar de assunto nesse exato momento. Não consigo! Acho que perdi minha pegada anacolútica. MUDA.

*em homenagem a Felipe-Souza-Rochedo huahahuahauahauhauahauahuah.

sábado, 30 de janeiro de 2010

...

A única coisa que conheço suficiente sou eu, não diria bem, sou confusa e meio volúvel(em relação a idéias), mas, das coisas que eu menos sei a que mais sei, sou eu. Não sou dissimulada pra tentar mostrar aquilo que não sou. Todas as vezes que eu disse sentir algo, eu realmente senti, naquele momento. Até planejei sentir por mais tempo. Eu tentei, tentei me interessar por coisas e pessoas que eu achava que eram boas pra mim. A semelhança entre essas coisas/pessoas que tentei(tentei mesmo) me interessar é que eu quis, e essas coisas a gente não quer, não escolhe. A gente, simplesmente se interessa. É o feeling, entende? Eu sei que eu fui errada em querer achar nos outros a cura pra minha carência. Foi bem errado isso e eu me sinto mal, por que eu já sofri um bocado e sei como é. Agora, eu acho que eu até entendo aquilo que um dia me feriu. Eu me sinto uma bosta por ferir também e sinto melhor por saber que pode ter doído mais nele do que em mim. Pode acreditar, eu sofro mais. De certa forma, eu gosto muito dessas coisas/pessoas, mas, não é o que o cosmo quer. A gente não deve contrariar a lei do cosmo, ele tem planos pra mim e pra todos. Eu não sou de todo mal, não sou, não, acredite. Te desejo todo bem do mundo, até mais que pra mim. Só assim doerá menos aqui. A gente não deve esperar que as coisas aconteçam, elas acontecerão, não é necessário se desesperar. Eu sou egocêntrica, mas, não sou egoísta. O meu mundo é o meu lugar preferido, mas, não hesito em querer bem e fazer, quando eu posso. Eu gosto do inesperado, improvável e coincidências. São extremamente interessantes! Eu sou jovem demais, tenho medo de envelhecer e gosto de música. Desculpa, mas, eu sou como o CFA, não entendi ainda a macrobiótica dos sentimentos. Não sei identificar o Yin e o Yang, confundo. Não espero que entenda, nem me sinto à vontade de falar com você, ainda. Me sinto mal. Não sou santa, nem demônio. Sou humana, erro. Odeio mentir e não firo de propósito.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Loucura é amor demais

Há algum tempo eu tenho colhido trechos meus, aqui e ali, juntado e feito alguma coisa. Tanto tempo que escrevi algo, principalmente a punho, e também, como comentei com um amigo, não andava triste o suficiente. O tráfego de pessoas nessa casa aumentou, na verdade, ainda não tinha ficado só, é só ficar pra ficar mal o bastante, pensar e escrever alguma coisa, e eu precisava. Precisava ficar só e escrever alguma coisa. É um dia de chuva, tem chovido nos últimos dias, acordei hoje e vi o céu negro, tava muito, muito frio, dava vontade de ficar na cama o dia todo. Não sei se por causa da chuva, nem entendo por que seria, mas, nos últimos três dias, eu tenho sonhado com a mesma pessoa. Deve ser a época do ano, janeiro é um mês bem complicado, você costuma me aparecer em janeiro, dessa vez, foi por sonho. Eu não passo o dia alimentando esse sonhos, fico pensando na merda que é gostar/amar/querer, essas coisas. De repente, você sente a necessidade de tá perto de alguém que não necessariamente sente de tá perto de você e nunca deu motivos pra gostar dele, pode até ter dado, afinal, sempre há um motivo, mesmo que seja só na SUA cabeça. E você desperdiçou todas as chances de se aproximar e de fazer ele também "gostar" de você. Agora, fica aí chorando o tempo perdido. No entanto, foi por não saber que eu fiz e disse nada. Talvez, uma palavra, um gesto, um "oi, o que cê tá ouvindo? Posso sentar?", um toque, um carinho, teria mudado nossos roteiros. Demorei demais pra fazer alguma coisa, quando fiz, era tarde demais. Da segunda vez, demorei também e você foi embora. Se eu soubesse o que precisava fazer pra você ficar, eu teria feito. Se precisasse de casa, eu teria feito quatro andares em 24 horas. Então, procurei todas as razões pra odiar você, dei com os burros n'água! Nunca consegui. Isso é uma merda! Porra! Isso é uma bela de uma merda! Taí, todo mundo tem um problema, né? Eu tenho um problema... Esse é o meu problema. Eu fico sonhando com um cara que tá nem aí pra mim, eu nem sei onde tá, ou fazendo o quê. Acostumei ser chamada de louca por esse e outros motivos. "Cê tá louca? Cê num pode pensar assim! Tem que tirar isso da cabeça!". Por que, hein? Louco, louco, loucura. Louco não pode amar? Os loucos também amam. Por que você acha que os loucos são loucos? Loucura é amor demais.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Um pouco de ilusão otimista

Acordei
Ainda não parei pra pensar o quanto isso é ruim
Mas, acordei.
Não tem ninguém aí fora
Ou aqui dentro.
Casa vazia.
Cama vazia.
Mãos frias e vazias.
É tudo branco aqui
As paredes, os lençóis
A camisola.
Eu gosto e não gosto de tudo branco.
Gosto por que me sinto leve
Não gosto por que parece hospital
Fechado, assim, parece manicômio.
A Rádio toca uma canção antiga
Não antiga em mim
Antiga mesmo, velha.
The guitar man...
Cantarolo, canto
Sempre canto
Desde muito pequena, canto
Nem bem, nem mal
Só canto.
“He can make you laugh
He can make you cry
He’ll will bring you down
Then he’ll get you high...”

Cigarro, cigarro.
Preciso de cigarro.
Amo tanto você.
Você nunca leu nada que eu escrevi
Nem lembra de mim, eu acho.
Como o amo!
Amo tudo que vem de você.
Até essa ausência , eu amo!
Por que é sua e contemplo como fosse algo digno de adoração.
E o espero
Mesmo sabendo que é em vão.
Espero como ontem
E sempre.
“Who’s on the Radio, You go to listen
To the guitar man...”
Eu amo você.
Vou esperar.
Talvez, não chegue. Não, nessa vida.
Mas, você vai chegar.