sábado, 9 de outubro de 2010

10:30

Eu o liguei. Depois de tanto tempo, eu o liguei. Mandei o ego pro inferno e o liguei. Chamei-o pra comer algo e ele disse que às 10:30 me encontraria no café daquela livraria no centro do Recife, me parecia um programa tão pseudo cult, mas e daí? No dia seguinte, às 10:30, o veria de novo. A madrugada parecia uma eternidade, o sol não queria nascer, um minuto parecia uma hora. Finalmente, o sol nasceu, 5:00 da manhã, mais 5 horas e meia e o encontraria. Eu não dormira e não sentia sequer o mínimo de sono, tava eufórica, meu coração disparado... às 10:30, o veria, sentiria sua mão, seus braços me guardando, aquele cheiro de bergamota e cedro que eu reconheceria de longe, beijos, beijos, beijos, talvez. Já não tinha mais unhas, todas tinham sido roídas. Ensaiava o que iria falar, falaria "eu te amo!", finalmente. Não aguentava mais esse "eu te amo" entalado, ele precisava sair, eu precisava sair também, não aguentava mais ficar em casa, era cedo, mas, eu iria, às 10:30, seria feliz.

Tentei ficar o mais bonita que consegui, às 10:30, eu seria feliz, enfim, seria feliz, agora sim, hoje sim. Cheguei na livraria às 9:00, não conseguia ficar em casa, nem queria fazê-lo esperar... cada segundo era um segundo a menos pra ele chegar, nós conversaríamos, tomaríamos um café e eu diria a ele que mesmo a astrologia não concordando, éramos feitos um pro outro, iguais em tudo, tudo. Éramos um. Acho livros bonitos, gosto de ler, mas não tenho paciência pra ler um só, sempre paro de ler um livro pra começar outro e depois volto, com amores é diferente, sempre o amei, e só. 9:30. Uma hora! Em uma hora, o veria. Fiquei lembrando da voz dele e imaginando a cara que faria quando eu dissesse: "eu te amo!", ele é tão lindo! 10:00.

10:30. Fico olhando o horizonte, só esperando a hora que ele virá caminhando em minha direção. Mas, ele não vem. 10:40, talvez, o relógio dele esteja atrasado 10 minutos, a qualquer momento ele pode chegar e eu serei feliz. 10:50, talvez, o relógio dele esteja atrasado 20 minutos. 11:00, talvez o relógio dele esteja atrasado 20 minutos e o caminho para o meu encontro leve uns 15 minutos pra ser percorrido. 11:10. 11:20. Ligo pra ele, será que aconteceu algo? Ninguém atendeu. Ligo de novo, ele atende e com uma voz de sono, responde: "perdi a hora, não consegui acordar". Olhei pros lados, comecei a procurar Deus, o demônio, um santo, um orixá, um unicórnio, um duende, um anjo, uma fada, ou qualquer coisa que me desse força pra acreditar em algo outra vez. Não havia nada além de prateleiras de livros lindos e pessoas felizes. É engraçado - risos -, é melhor achar engraçado pra que a tristeza não tome conta. É engraçado, ele perdeu a hora, não conseguiu acordar e eu não dormi só por que às 10:30 ia vê-lo. 11:35, e mais uma vez, não foi hoje que eu fui feliz.

Um comentário:

  1. Flor..me vi nesse texto....chega até a ser engraçado mas como mulheres são idiotas.
    Bem vinda ao deserto do Real

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