sábado, 28 de novembro de 2009

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Ontem desejei morrer, inclusive, arquitetei a forma, queria algo inovador, algo nunca tentado antes. Mas, acho que todos já tentaram morrer de todas as formas e pra morrer de um meio não excêntrico, prefiro viver, ou melhor, existir. São exatamente 11:28 da manhã de uma segunda-feira, meus olhos estão inchados, na verdade, quando acordei e olhei no espelho pensei que fosse outra, aquela imagem não me era familiar, estava deformada, o choro a deformou... os olhos eram menores do que já são e a boca maior do que já é, a franja de um cabelo-castanho-avermelhado(traços do vermelho que não quer me deixar)esvoaçada, eu toda descabelada, encarando aquele monstro no espelho. Sentei na cama, ainda de frente ao espelho e pensei que talvez, eu devesse raspar o cabelo, depois, resolvi que não queria mais pensar, pois todo “penso” é cansativo e já não tinha forças, deitei. Lembrei de ontem, acho que nunca havia chorado com tanto gosto, tive liberdade disso. Minha mãe me perguntou o porquê do meu choro, eu disse que estava com dor, perguntou de que, disse: “cólica, mãe”. Então, me deixou chorar de cólica. Aliás, as cólicas sempre justificaram meus problemas, as pessoas devem pensar que eu devo ter um problema ginecológico, nunca gostei muito de gente e sempre fugia dos lugares e quando me perguntavam o que tinha, sempre respondia: “cólica”. Era como matava aula no colégio, como fugia no meio das festinhas na casa dos amigos, como explicava minha cara sempre emburrada: “cólica”. Então, ela (minha mãe) saiu pra comprar um remédio pra minha dor, isso foi maravilhoso, eu só no meu quarto podia me contorcer à vontade, me entregar ao choro e ainda balbuciar o nome daquele idiota, falar em voz alta, gritar, xingá-lo e sonhar que ele estivesse pensando em mim. Tive uma vontade quase incontrolável de telefonar e escutar ele dizer: “alô, alô, alô” (silêncio, só o som da respiração dele). Não liguei, meus braços não se mexiam, não tinha mais voz, não era mais nada, nem queria mais nada, não sentia nada, só queria morrer, me faltava coragem e com o medo que sempre me perseguia, resolvi fazer nada. Imaginei o amanhã e não consegui vê-lo, de fato, morri ali, morri naquele momento, morri, morri, morri. Passava um filme na minha cabeça, todos os momentos, todas palavras, as melodias que eram ele, dele, por ele e pra ele. Tudo, tudo o que eu planejei, o jantar, ou melhor, o almoço(lembra?), nós de mãos dadas, o “eu te amo” que eu nunca ouvi, era um filme de ficção passando na minha memória... uma lembrança não existente, só em mim, de onde nunca passou, nem vai passar.

Você já amou alguém? Tanto, mas, tanto que quando você via aquele ser, o coração disparava, o ar faltava, a voz desaparecia e você não sabia se corria dele, ou pra ele? Eu já. E por me faltar a voz, nunca consegui trazê-lo pra mim, o perdi, inúmeras vezes. Ele escorregou da minha mão, fugiu de mim. Eu me tornei apenas uma tarde agradável, uma noite agradável, uma conversa agradável na vida dele, creio que nem ao menos, agradável, ultimamente. A última frase dele me martela na cabeça: “cada macaco no seu galho”. Ele podia ter dito algo melhor, ou menos clichê, uma coisa menos pop, odeio tudo pop, odeio gente, odeio música que toca na rádio, odeio programas de TV, ele podia ter me dilacerado de forma mais romântica pra ser mais bonito de se contar, pra ser um fim bonito... não, ele só disse:

- cada macaco no seu galho.

- cada macaco no seu galho... – repeti.

- exato.

-exato... – repeti.

- é.

- queria te odiar, mas, não tenho força de vontade.

- okay, bye.

Odeio quem fala comigo em inglês, acho frio, inglês é uma língua fria, sem sentimentos. Doía quando, nem lembro quantas vezes, eu dizia que gostava dele e ele respondia: “thanks”. Eu queria contar algo e ele dizia: “tell me”. Odiava ainda mais por ser expressões manjadas e passar a impressão que ele queria se livrar de mim e acabar a conversa, odiava tudo, mas, não conseguia odiá-lo... até tentava, mas, desistia e o amava cada vez mais, além de mim.

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