quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Quase

Quase ganhei na loteria
Quase ganhei a guerra
Quase consegui o emprego
Quase chorei
Quase ri
Fui o quase melhor
Quase cheguei lá
Quase enlouqueci
Quase esqueci
Quase fui feliz
Você quase me amou
Desta vez, chorei
Não foi quase
Quase morri.
Quase.
Quase.
Quase.
Quase é frustrante
Não quero quase
Quero tudo
Sou inteiro e intenso
Quero o mundo
E quase tudo
É quase nada.

sábado, 15 de agosto de 2009

Pra ler escutando: No Surprises - Radiohead



O chão do banheiro

Não há lugar mais digno

Pra derramar essas lágrimas

Essas lágrimas sujas

Não por serem lágrimas

Mas, por serem derramadas por você

Você que não vale

Não vale as promiscuidades escritas

na parede desse banheiro sujo.

Imundo.

Fedido.

Me sinto podre aqui.

Ah, essas lágrimas...

Antes fossem sangue, meu sangue

Minha vida desvaindo, eu indo de vez.

Meu amor escorre pelo rosto

e cai,

caímos, eu e lágrimas

no chão podre do banheiro.

Já sou podre também

Você me fez podre

Por que você o é.

Não.

Você não merece minhas lágrimas

Eu não mereço esse cheiro fétido.

Levanto, enxugo as lágrimas

Vou, vou de vez.

sábado, 8 de agosto de 2009

Sobre o pierrot-retrocesso...


Sabe o pierrot-retrocesso? O de "Faz parte do meu show", do Cazuza? Já parou pra pensar o que/quem seria o pierrot-retrocesso? Bem, a primeira coisa que me vem a cabeça é o personagem da Commedia dell'Arte, o pierrot apaixonado pela Colombina chorando de amores, aquela imagem de uma fantasia de carnaval com uma lágrima no rosto, trocado pelo Arlequim.
Mas, e o pierrot-retrocesso? O que Cazuza quis dizer, hã? Levando em consideração as caraterísticas do personagem, que é tido como inocente, fácil de enganar, louco, sonhador e mesmo sendo passado pra trás, ele continua a confiar nas pessoas. E a leitura de outras letras de Cazuza, como em "Não Amo Ninguém", quando ele diz: "Se todo alguém que ama/ Ama pra ser correspondido/ Se todo alguém que eu amo/ É como amar a lua inacessível/ É que eu não amo ninguém/ Não amo ninguém/ Eu não amo ninguém, parece incrível/ Não amo ninguém/ E é só amor que eu respiro." Eu fico pensando nas semelhanças do eu-Cazuza e do eu-Pierrot, ambos não eram correspondidos. Esta aí, o pierrot-retrocesso! Apesar de nunca se dar bem no amor, sempre sofrer, chorar, sentir essa dor nada miúda nesse "vão entre as costelas", como diria Adélia Prado, ele esquece. Esquece tudo que passou, volta ao início(retrocede) e ama de novo e de novo e de novo. Sabe o que é mais ridículo? No mundo, em pleno século XXI, em que amar é tão brega, ainda existem pierrot(s)-retrocesso e tão "Exagerados" quão Cazuza. Droga! =T